Entre a cidade e a capital
Numa semana que teve a audiência pública da Câmara sobre as propostas para o centro de São Carlos e o deprimente espetáculo do tribunal superior eleitoral que, como quase todo o sistema político brasileiro, merece a referencia com minúsculas, confesso minhas incertezas sobre os rumos desta coluna.
Esses extremos, o local e o nacional, apresentam uma questão comum. A grande dúvida da atualidade – e não apenas no Brasil – é se ainda há alguma instancia em que seja possível pensar, falar ou fazer algo parecido com Política, assim com maiúsculas.
No Brasil de hoje, o sentimento da enorme maioria dos cidadãos é de repulsa ao que se convencionou chamar de mundo da política. Mas agora se vê não é diferente o mundo do que, erroneamente, chamamos de justiça.
Talvez por que nunca foi tão escancarado que o sistema que nos governa não apenas não leva em conta os interesses da maioria da população mas também já não pretende sequer disfarçar esse desprezo nem manter um mínimo decente de aparências.
Nada é mais distante da ideia de Política, que significa a possibilidade de constituir um dimensão da vida social em que cada cidadão atua, segundo sua posição particular mas com o objetivo comum de pensar os interesses de toda a coletividade.
Será que a possibilidade de reconstruir alguma legitimidade nas relações entre as diferentes instancias (governo, judiciário, legislativo) do arcabouço político do país deveria ser experimentada primeiro nos âmbitos menores e mais básicos da organização da vida da população, os municípios, como dizia acreditar o ex-governador Franco Montoro?
Entre a quarta feira na Câmara e a quinta e sexta no tse, sobram dúvidas sobre o nosso futuro, na cidade concreta em que habitamos e nessa hoje quase abstração chamada Brasil.
As próximas semanas dirão muito.
* Professor Titular do IAU USP São Carlos