Incentivo burro
Ultimamente, tenho caminhado bastante a pé pela cidade. Sempre perdida nos meus próprios pensamentos, quando “retorno a Terra”, observo uma coisa ou outra ao meu redor e o que tenho visto, costumeiramente, é o trânsito da cidade aumentando vertiginosamente. Perco-me, novamente, em meus pensamentos e relembro uma notícia, publicada aqui mesmo, no Primeira Página, com o seguinte dado: de acordo com pesquisa realizada pela Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) de São Carlos, a frota de veículos na cidade cresceu 98% nos últimos dez anos.
Quem anda pela cidade, a pé mas, principalmente, de carro, pode notar que tem se tornado cada dia mais difícil transitar por aqui. Mas, esse fato não é só “luxo” dos são-carlenses. Os paulistanos, melhor do que ninguém, podem afirmar que o trânsito torna-se cada dia mais insustentável na capital e o carro que, ironicamente, foi feito para que chegássemos rapidamente aos nosso destinos, tem ficado parado nas ruas por muito mais tempo do que seus condutores gostariam.
Nesse momento, reflito sobre as políticas brasileiras defendidas e esbravejadas pela nossa atual administração pública que, indo na contramão de grande parte dos governos mundiais, incentiva aquisição de automóveis e, para isso, facilita sua compra, com a redução do IPI que, no ano passado, teve bons meses de duração.
Diante desse quadro, atrevo-me a ir mais além: o investimento colossal no projeto do pré-sal, novamente motivo de orgulho para o atual governo, não deveria causar empolgação em nenhum cidadão. O motivo? Primeiro, porque estamos falando de uma fonte para produção de combustível não renovável (mesmo que a quantidade de petróleo que se promete retirar das profundas camadas poderá colocar os carros para andar por muito tempo). Em segundo lugar, com o foco no pré-sal, o abandono de pesquisas voltadas a energias limpas e, sobretudo, inesgotáveis (como a solar e eólica) é uma consequência, o que se torna fatal ao país (sem falar ao meio ambiente).
Juntando tudo isso, a conclusão final não é das mais otimistas: carros a preços baixos e acessíveis aos cidadãos de qualquer renda mais o petróleo extraído às pencas trará um catastrófico trânsito para as cidades, fazendo com que o fluxo de automóveis torne-se ainda pior. O tiro sairá pela culatra e as pessoas começarão a deixar os carros em casa, já que, em alguns casos, chegar ao seu destino a pé será mais rápido e, inclusive, mais barato.
Diante disso, pergunto-me até quando a postura de nossos governantes será a favor de políticas desse tipo. É tudo uma questão de logística, e logística simples! Mas, como sempre, as cifras fazem os olhos dos administradores brilhar. Pena que, em pouco tempo, esse brilho se converterá em lágrimas, até mesmo nos olhos dos mais poderosos.
Tatiana, muito bem comentado … a incoerência entre o pensar, o dizer e o agir !!!