Língua
O possível leitor pode ficar sossegado, que não vou me aventurar em teorizar sobre o assunto , inventariando todas as palavras que envolvem o tema , como “linguagem”, “linguística”, “epilinguística”, “léxico”, etc. Nem caberia neste espaço e na paciência do eventual leitor.
Minha intenção é discorrer sobre certos aspectos da potencialidade do seu uso no cotidiano e no tempo. A própria palavra “língua” tem um sentido diferenciado nesta censura do falante: “Que língua, hein!” . O interlocutor entende como uma crítica a alguém, mestre em falar mal dos outros.
Apesar de variadíssimo o potencial de criticar, vamos derivar para o também rico potencial de elogiar. Basta o leitor selecionar na memória o vocabulário próprio para isso. Conforme a época, é verdade, a quantidade desse vocabulário pode ficar obscurecida. O recurso, então, é apelar para outros meios de que a língua dispõe como: certos advérbios (mais, muito, bastante) seguidos de um adjetivo; superlativos , em português caracterizados frequentemente pela terminação “íssimo/a”. Como uma língua está sempre sujeita a variações na forma e também no conteúdo , os falantes podem questionar a validade atual dos “ilustríssimos”, “excelentíssimos”, “capacíssimos”, “honestíssimos”. Muitos dos homenageados com tais títulos não têm justificado seu conteúdo.
Se a tendência , no momento, é reduzir os elogios às entidades públicas, convém recuperar, em algum lugar, a legitimidade do emprego dos recursos que a língua oferece. E eu tenho, por exemplo, esta instituição: “Unidade de Saúde da Família Dr. João Martins Villari”. Numa recente coleta de sangue, na fila antes de entrar, fiz uma pergunta a todos ali presentes sobre a qualidade dos serviços prestados pela Unidade. A resposta, junto com a minha, foi de —bom a excelente . A voz do povo é a voz de Deus.
(*) Professor de português e revisor de textos.
