Universidade e escola pública
Ao longo do século XX a educação foi vista como um importante mecanismo de mobilidade social e hoje é claro que é também a chave estratégica para o desenvolvimento econômico.
Pela primeira razão ela é fundamental num país que ostenta a lamentável condição de um dos mais desiguais do planeta.
Pela segunda, é estratégica para não desistir de vez de nossa soberania econômica, tecnológica e política.
Como quase ninguém negaria essas duas premissas, a pergunta é se nosso sistema educacional está adequado para enfrentá-las. E a resposta, por enquanto, um sonoro não.
Muitos problemas são apontados para justificar essa descrença, da falta de estímulo aos professores às dificuldades do orçamento público.
Mas é preciso chamar – mais uma vez – a atenção para a contradição estrutural do sistema nacional de educação.
Mais de 75% das vagas nos ensinos fundamental e médio está nas escolas públicas (municipais, estaduais e federais) enquanto na educação superior essa proporção é invertida.
Quanto à qualidade, as escolas privadas de ensino fundamental e médio apresentam melhor desempenho enquanto nas universidades ocorre exatamente o contrário.
O resultado geral dessa distorção é que um aluno pobre da escola pública, mesmo talentoso e com grande potencial, terá muitas dificuldade para ingressar, sem falar das dificuldades para se manter, nas universidades públicas.
O problema é certamente complexo e enfrenta-lo exigirá tempo e políticas de longo prazo. Mas é preciso dar os primeiros passos.
O programa Vem para a USP, recentemente assinado entre a mais importante universidade pública brasileira e a Secretaria Estadual da Educação, é um passo pequeno diante desse quadro mas que desperta esperanças.
Voltaremos ao tema e a essa importante iniciativa, que tem muito a ver com a USP de São Carlos.
Professor Titular do IAU USP São Carlos