Banco de dados reúne informações anônimas de pacientes com Covid-19
Base de dados abertos terá informações de 75 mil pacientes
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp) anunciou nesta última quarta-feira (17), na capital
paulista, a criação da primeira base de dados abertos anônimos do país com
informações demográficas de 75 mil pacientes de covid-19. O arquivo guardará
1,6 milhão de exames clínicos e laboratoriais e 6.500 dados de desfecho de
pacientes para subsidiar pesquisas científicas sobre o novo coronavírus, que
serão compartilhados com pesquisadores de universidades e outras instituições.
O banco de dados, denominado Covid-19 Data Sharing/BR, foi criado em colaboração
com a Universidade de São Paulo (USP), o Grupo Fleury e os hospitais
Sírio-Libanês e Israelita Albert Einstein.
De acordo com o diretor científico da Fapesp, Luiz Eugênio Mello, a ideia é
subsidiar a pesquisa científica sobre a doença. A criação da plataforma
é uma iniciativa de fazer o que tem sido a tônica do desenvolvimento da
ciência nas últimas décadas – a abertura dos dados gerados por
instituições públicas de pesquisa para a sociedade, sem a necessidade de
assinar uma publicação.
“Neste caso, estamos falando de informações que não foram geradas pelo
sistema público. Começamos com três instituições privadas e são informações
que, se não fosse mediante essa iniciativa, permaneceriam nos repositórios das
organizações. A ideia é, lançando mão de uma plataforma que já existia na USP,
compartilhar dados que não seriam disponibilizados de outra forma para
mobilizar cientistas de maneira que consigamos contribuir para novos
entendimentos da atual epidemia”, disse.
Segundo Mello, uma plataforma nesses moldes demora anos para ser construída,
mas, no caso desta, os dados foram inseridos em tempo recorde devido à
existência da estrutura e do investimento. “O que resultou de relevante
foi o estabelecimento dos vínculos de confiança entre os fundadores da iniciativa.
A função central da Fapesp é servir como catalisador desse trabalho. O custo da
obtenção dos dados já foi pago pelos pacientes que fizeram os exames, e o
que estamos fazendo é, de forma anônima, compartilhar esse conjunto de
informações”.
O pró-reitor de Pesquisa da USP, Sylvio Canuto, destacou que o trabalho é um
grande passo na luta contra a covid-19, já que a situação mostra a
necessidade do compartilhamento de dados científicos. “O projeto já está
funcionando na USP e permite usar as informações de forma
sustentável. Este é um instrumento que será perene”, afirmou Canuto.
O diretor executivo do Grupo Fleury, o médico Edgar Rizzatti, disse que desde o
início da pandemia pesquisadores e centros de estudo têm sido
procurados por startups, com
interesse na disponibilização de dados de pacientes de covid-19, para
desenvolvimento de projetos e estratégias em ciência de dados e algoritmos de
inteligência artificial. “Por isso, acredito que essa iniciativa pioneira
vai trazer grande benefício para a comunidade científica e vai permitir que
tenhamos melhor entendimento da doença em nosso meio, o que trará
importante contribuição à sociedade”.
Para o diretor de ensino e pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, Luiz Fernando
Lima Reis, a relevância da iniciativa pode ser caracterizada pelo
compromisso das instituições na solução da pandemia e na melhoria do cuidado
assistencial aos pacientes. “A resposta sempre veio da ciência e a
legitimidade da Fapesp em promover a ciência dá a garantia do propósito do
projeto. Não teremos soluções fora da ciência não pautadas pela melhor geração
do conhecimento, e é nesse sentido que nos juntamos à Fapesp nesse
desafio”.
Na avaliação do diretor-superintendente do Hospital Israelita Albert Einstein,
Luiz Vicente Rizzo, a única maneira de fazer pesquisa boa é em colaboração.
“O conhecimento é o maior inimigo da doença e a preocupação é com os
pacientes, com o conhecimento, trazendo soluções para a vida das pessoas e não
só para a covid-19, porque esse banco de dados poderá ser aproveitado
em diversas outras atividades”.
O banco conterá dados anônimos dos pacientes que fizeram exame, estiveram
internados e a descrição da evolução clínica do quadro de saúde. Posteriormente
serão adicionados exames de imagem. Os dados poderão ser verificados por
analistas, que darão sugestões para melhorar a plataforma.