Desmate pode causar novas pandemias, diz especialista
No painel sobre governança ambiental na Amazônia, realizado
ontem no Brazil Forum UK, o cientista e ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2007
Carlos Nobre disse que se o desmatamento continuar nos ritmos de hoje, o mundo
terá que conviver com uma pandemia como a da covid-19 a cada dois meses.
“Se nós continuarmos a perturbar os ecossistemas naturais de todo o mundo,
especialmente os tropicais, vamos gerar uma pandemia a cada dois meses”,
afirmou o cientista. Segundo ele, pesquisas de opinião dos últimos 25 anos
mostram que mais de 90% dos brasileiros são contra o desmatamento da Amazônia.
Logo, diz Nobre, as taxas de desmate crescentes são “prova concreta de que
o que ocorre de fato na Amazônia não tem nenhuma relação com a vontade do povo
brasileiro”.
Além do cientista, também participaram do debate o governador do Pará Helder
Barbalho (MDB), Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, e Simone Karipuna,
uma das coordenadoras da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do
Amapá e norte do Pará (APOIANP). A moderação foi feita por Julia Bussab,
mestranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento na London School of Economics.
Simone criticou a atuação do governo brasileiro na proteção dos povos
indígenas. “Nós (indígenas) somos capazes de fazer a governança ambiental
do nosso território. O que a gente percebe é que não há interesse por parte do
governo brasileiro em querer justamente fazer essa coisa compartilhada com os
povos indígenas”, disse.
Na mesma linha, Adriana defendeu a participação social na estruturação de
políticas sobre o tema, e apontou que o acesso à informação ambiental é
fundamental para a tomada de decisões conjuntas.
Na próxima segunda-feira, 22, o painel Ciência em Crise propõe ampliar o debate
sobre o papel da ciência no desenvolvimento do País, a aproximação da academia
e da sociedade e o futuro da produção científica brasileira. O Brazil Forum UK
é organizado por estudantes brasileiros em Londres e tem transmissão do
Estadão.