Doria divide Grande SP para flexibilizar quarentena
Mesmo com ocupação de 88,9% dos leitos de UTI, cidades da
Grande São Paulo serão autorizadas a conduzir projetos de abertura econômica,
segundo decisão do governador João Doria (PSDB). A região metropolitana foi
dividida em seis áreas: a capital e mais cinco, e cada uma apresentará semana
que vem estudos sobre possível flexibilização da quarentena. Apesar de a
capital ter recebido aval do Estado para reabrir shoppings e lojas a partir de
junho, os 38 municípios da Grande São Paulo haviam sido colocados na zona
vermelha, de restrição máxima. A mudança veio após pressão dos prefeitos dessas
cidades.
A nova determinação estadual foi antecipada nesta sexta-feira, 29, pelo Estadão.
No plano original de Doria de retomada gradual, apresentado esta semana, o
Estado foi dividido em 18 regiões e há cinco fases de restrição. A 1.ª,
vermelha, libera só serviços essenciais, como os de saúde, além da indústria e
construção civil. Já a 2.ª fase, laranja, prevê reabrir, com restrições,
shoppings, lojas, concessionárias e escritórios em junho.
Conforme o governo, a mudança de fase depende da análise pelo Estado de uma
série de critérios, como a evolução de casos e óbitos por covid-19 e a
disponibilidade local de leitos – a metodologia só foi detalhada nesta sexta. O
fato de a capital ser a única das 39 cidades da Grande São Paulo na zona
laranja motivou críticas de prefeitos e empresários.
Um dos desafios, para críticos do plano original, seria lidar com a alta
circulação de trabalhadores da capital vindos da região metropolitana, e com o
controle de divisas de São Paulo e cidades vizinhas. Já cientistas veem risco
de qualquer flexibilização na Grande São Paulo, pois o Estado ainda não passou
pelo pico da pandemia – anteontem houve recorde de novos casos. A Grande São
Paulo tem 22 milhões de habitantes.
Parte dos 18 médicos do Centro de Contingência do Coronavírus do governo
paulista se opôs à ideia de mudar a divisão da Grande São Paulo. O Estado diz
que o comitê foi plenamente ouvido e apoiou a decisão. Doria disse ontem não
ter cedido a pressões. “A gente não se submete a nenhuma forma de pressão,
nem de prefeitos, nem de parlamentares nem do presidente. A orientação sempre
foi a da ciência. Foi sempre assim e continuará sendo assim.”
Secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi ainda reforçou
que a migração de fase não é imediata. Disse ainda que áreas críticas da região
metropolitana vão continuar sob restrição e que mudanças de cenário de
quarentena dependem também de ampliação da estrutura hospitalar.
Reação
Por enquanto, a região metropolitana segue com as mesmas regras de
quarentena, em vigor desde 24 de março. Ainda não está definido quais
sub-regiões poderão mudar de fase. O Estadão apurou que a zona do ABC – Santo
André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da
Serra – deve ter aval do Estado para flexibilizar na próxima semana.
“Corrigir um erro é o maior acerto em que um gestor público pode mostrar
sua grandeza”, disse Orlando Morando (PSDB), prefeito de São Bernardo e
aliado de Doria, que ficou internado na UTI em abril por covid-19. Ele havia
sido um dos mais críticos ao plano inicial. “Se é para ouvir a ciência,
não é para liberar ninguém da região metropolitana”, disse ele, na
quarta-feira.
Outro argumento de Morando era a diferença de capacidade hospitalar entre
cidades da região. São Bernardo tem ocupação de UTIs de 71% – índice melhor do
que o da capital, com taxa de 83% nos hospitais municipais anteontem. Já
Guarulhos enfrenta situação grave, com índice de ocupação de 101,3% (com uso de
leitos extras).