Escolas da rede estadual de SP terão disciplina sobre fake news
As
escolas estaduais de São Paulo vão ensinar os alunos a identificar
fake news. A nova disciplina, que será eletiva, começa no ano que
vem do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e no ensino médio.
Pesquisas mostram que estudantes mal conseguem diferenciar um
conteúdo patrocinado de uma reportagem.
“Notícia falsa
não foi criada pela tecnologia. Sempre existiu, mas não tinha tanto
poder de multiplicação. Hoje, a relação mudou com as redes
sociais e foi para dentro da escola”, afirmou o secretário de
Estado da Educação, Rossieli Soares. “Por isso, precisamos de
um momento para trabalhar o assunto em sala de aula, ajudar nosso
aluno a interpretar e localizar informações seguras.”
Segundo
o secretário, a proposta é desenvolver no aluno o pensamento
crítico, competência prevista na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC).
“Não podemos instrumentar o estudante para ter uma
opinião formada, mas podemos garantir que as fontes que ele procura
sejam seguras e que ele faça comentários com responsabilidade.”
A
eletiva tratará de questões como leitura crítica, escrita,
produção de conteúdo e participação ética e responsável do
aluno na internet, explicou Patrícia Blanco, presidente do Palavra
Aberta, instituto responsável pela elaboração dos planos de
aula
“Vamos passar por todos os conteúdos de educação
midiática, incluindo ensinar o estudante a reconhecer o que é
notícia, identificar gêneros textuais, saber como se checa, avalia
e traduz uma notícia”, disse Patrícia.
A falta de preparo
dos estudantes para lidar com a desinformação foi observada em um
estudo da Universidade Stanford publicada no início do mês. Em uma
das atividades, os alunos deveriam analisar se uma página sobre os
efeitos do dióxido de carbono no meio ambiente que pertencia a uma
empresa do setor de combustíveis fósseis era ou não confiável.
Dos
3.446 alunos entrevistados, 96% foram caracterizados pelo estudo como
“iniciantes”, pois não investigaram a credibilidade da
fonte e deram atenção a outros fatores, como domínio “.org”
e ausência de anúncios. Outra questão da pesquisa mostrou que dois
terços não sabiam diferenciar notícias de anúncios na página de
uma revista americana.
Nas escolas do Estado de São Paulo, a
relação dos jovens com as notícias que circulam na internet também
são preocupantes.
“Começamos a perceber que os alunos
passavam informações de forma errônea, sem olhar a fonte e ter
certeza de que aquilo era correto”, afirmou a assessora de
Tecnologia da secretaria, Débora Garofalo. “Por isso, a
educação midiática é um ponto fundamental para os nossos tempos.
Estamos disseminando informações errôneas em uma velocidade
absurda”, disse a professora, fazendo referência a pesquisas
como a da organização não governamental (ONG) The News Literacy
Project, que mostrou que uma notícia verdadeira demora seis vezes
mais tempo para atingir 1.500 pessoas do que uma falsa. “Nossos
alunos não estão preparados para isso.”
A discussão
sobre educação midiática nas escolas integra o programa Inova
Educação, da Secretaria Estadual de São Paulo, que incluiu três
novos componentes ao currículo: tecnologia, projeto de vida e
eletivas.
“O trabalho na escola deve permear a vida desses
estudantes para que eles possam confiar e zelar por essas informações
de forma ética e reflexiva”, disse Débora.
Além da
eletiva, nomeada “Educação Midiática: Muito Além das Fake
News”, o tema vai ser incorporado de forma interdisciplinar às
aulas de tecnologia, especialmente as que tratam de mídias digitais
e letramento digital.