Investigação deve chegar a núcleo do ‘gabinete do ódio’
Investigação poderá atingir Carlos Bolsonaro, vereador e filho do presidente
O avanço da investigação sigilosa do Supremo Tribunal
Federal (STF) sobre ameaças, ofensas e fake news disparadas contra integrantes
da Corte e seus familiares deve chegar ao núcleo próximo do presidente Jair
Bolsonaro, segundo o Estadão apurou. Com previsão de ser concluído em
15 de julho, mas a possibilidade concreta de ser novamente prorrogado, o inquérito
já fechou o cerco sobre o “gabinete do ódio”, grupo de assessores do
Palácio do Planalto comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ),
filho do chefe do Executivo. A existência desse núcleo foi revelada em
reportagem do Estadão de setembro do ano passado.
Comandante do “gabinete do ódio”, Carlos não foi alvo da operação da
Polícia Federal ocorrida na quarta-feira por determinação do relator do
inquérito das fake news, ministro Alexandre de Moraes. A ofensiva, considerada
“abusiva” pelo Palácio do Planalto, resultou na apreensão de
documentos, computadores e celulares em endereços de 17 pessoas suspeitas de
integrar uma rede de ataques a ministros do STF e na convocação de depoimento
de oito deputados bolsonaristas.
A expectativa de integrantes do STF é a de que, se em um primeiro momento
Moraes optou por focar nos tentáculos operacionais do “gabinete do
ódio”, o filho do presidente da República deve ser atingido já na etapa
final do inquérito, com o aprofundamento das investigações. O cálculo político
que estaria sendo feito é o de que o envolvimento de nomes mais graúdos nessa
etapa poderia comprometer os trabalhos.
A investigação é conduzida no Supremo pelo delegado federal Igor Romário de
Paula, que integrou a Lava Jato em Curitiba, e é tido como um aliado do
ex-ministro Sérgio Moro, e também por Denisse Dias Rosas Ribeiro, Fábio Alceu
Mertens e Daniel Daher. Em meio às acusações de Moro de que Bolsonaro tentou
interferir politicamente na PF, Moraes decidiu blindar o grupo e determinou que
o inquérito deveria continuar nas mãos desses delegados, independentemente das
trocas no comando da corporação.
Ao determinar a operação de busca e apreensão, que mirou empresários e
blogueiros bolsonaristas, o ministro definiu o “gabinete do ódio” como
uma “associação criminosa”. “As provas colhidas e os laudos
periciais apresentados nestes autos apontam para a real possibilidade de
existência de uma associação criminosa, denominada nos depoimentos dos
parlamentares como ‘Gabinete do Ódio’, dedicada a disseminação de notícias
falsas, ataques ofensivos a diversas pessoas, às autoridades e às Instituições,
dentre elas o Supremo Tribunal Federal, com flagrante conteúdo de ódio,
subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática”,
escreveu Moraes.
A operação contra aliados bolsonaristas foi criticada ontem por Carlos no
Twitter. “Nunca tiveram provas, apenas narrativas. Revelações literalmente
inventadas por 2 parlamentares e agora apoiadas por biografados. Forçam busca e
apreensão ilegais para criarem os fatos e ganharem fôlego”, escreveu.
“Eu não sei o que estão fazendo. Não chego perto do meu pai há um bom
tempo. Apenas exibi minha liberdade de falar enquanto posso!”, emendou
O filho do presidente ainda postou uma declaração antiga de Moraes em
julgamento do STF, quando o ministro falou “que quem não quer ser
criticado, ser satirizado, fique em casa, não se ofereçam ao público”.
“Querer evitar isso por uma ilegítima intervenção estatal na liberdade de
expressão é absolutamente inconstitucional”, disse Moraes na ocasião.