Novo ministro da Educação é derrota para olavistas e vitória para militares
O novo ministro da Educação,
Carlos Alberto Decotelli, significa a derrota da ala olavista e uma vitória do
grupo moderado militar. O economista especializado em gestão foi anunciado na
última quinta-feira (25) pelo presidente Jair Bolsonaro como substituto de
Abraham Weintraub, demitido na semana passada. Decotelli, ex-presidente do
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), é visto como um
profissional pragmático e distante do pensamento ideológico que dominou o MEC
desde o início do governo.
Ele é o primeiro ministro negro do governo Bolsonaro e foi
tirado do MEC justamente por Weintraub. Mas também havia travado embates com os
integrantes ligados a Olavo de Carvalho durante a curta e conturbada gestão de
Ricardo Vélez. O primeiro ministro da Educação de Bolsonaro saiu do cargo depois
de um conflito entre olavistas, militares e técnicos dentro do órgão.
A indicação do ministro foi adiantada pelo Estadão. “Eu respeito a opinião de todos, mas eu tenho
uma urgência tão grande de resolver questões que a covid desorganizou e
precisamos resolver isso. Mas a ideia, claro, é fazer uma gestão que seja
compatível com a realidade de cada um poder opinar”, afirmou Decotelli.
Ex-professor da Fundação Getúlio Vargas e da Fundação Dom
Cabral, o oficial da reserva da Marinha participou do grupo de militares que
discutiu a transição para o governo Bolsonaro. Entre eles estão o general
Villas Bôas e o vice-presidente Hamilton Mourão. Foi assim que ganhou o cargo
no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) no começo de 2019.
Decotelli, de 67 anos, ficou nove meses no órgão que cuida do
dinheiro do MEC. Weintraub o tirou do cargo para acomodar um indicado do DEM,
Rodrigo Sérgio Dias. Ele foi exonerado pouco tempo depois, sem nem ser avisado,
para que o então ministro colocasse no cargo Karine Silva dos Santos,
concursada do próprio fundo. Em junho de 2020, mais uma mudança, entra Marcelo
Lopes, indicado pelo Centrão.
Conservador e de bom trato, especialistas em educação
acreditam que ele pode retomar a interlocução com Estados e municípios, perdida
desde o início do governo Jair Bolsonaro. Seu currículo informa que ele é
bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ), mestre em Administração pela FGV e doutor em Administração Financeira
pela Universidade de Rosário (Argentina) e pós-doutor pela Universidade de
Wuppertal (Alemanha).
Enquanto esteve no FNDE, tentou modernizar o órgão em
processos de prestação de contas e trabalhou muito com as prefeituras. Sua
visão de educação, segundo quem já trabalhou com ele, é a de que falta boa
gestão para que os sistemas funcionem de maneira adequada. A ideia é
compartilhada por alguns economistas, mas não é consenso entre educadores, que
acreditam que é preciso focar na aprendizagem.
Ideologia
No entanto, vai embora definitivamente do cargo mais alto do
MEC a ideia da educação que precisa combater comunistas. A preocupação de
especialistas é como devem se comportar os integrantes da área ideológica que
continuam por lá, como Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização e ligado a
Olavo de Carvalho.
A disputa pelo comando do MEC mobilizou as alas ideológica,
militar e civil do Planalto. Decotelli acabou sendo o escolhido como uma
alternativa apaziguadora e técnica para a função. O objetivo é reparar o
desgaste da imagem do ministério que foi comandado até a semana passada por
Weintraub.
Nos bastidores do Palácio do Planalto, a informação é de que
pesou a favor de Decotelli o apoio do secretário especial de Assuntos
Estratégicos, almirante Flávio Rocha, nesta última sexta-feira (26) um dos
auxiliares mais próximos de Bolsonaro. Ele também teve o apoio do ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, que trabalhou pela demissão de
Weintraub.
“É um claro sinal de espaço limitado do presidente, que
já está reciclando autoridades que ele mesmo demitiu porque não tem capacidade
de atrair quadros para o seu governo”, diz o Diretor de Estratégia
Política do Todos pela Educação, João Marcelo Borges. “O mais importante
nesse momento é pacificar o diálogo, estabilizar a crise em torno de MEC e
construir conjuntamente as soluções.”
A primeira opção para o cargo, do secretário de Educação do
Paraná, Renato Feder, não vingou. Depois de conversar pessoalmente com ele,
Bolsonaro desistiu de nomeá-lo.
O Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed)
divulgou nota, informando que enquanto Decotelli esteve no FNDE manteve
“um bom canal de diálogo” e acredita na possibilidade de
“contínua interação com o Ministério da Educação para que políticas
educacionais possam avançar com celeridade e qualidade”.