Pesquisadores da USP lançam plataforma de compartilhamento de insumos
Ferramenta auxilia cientistas que desenvolvem estudos sobre COVID-19
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) criaram uma
plataforma digital, denominada SocialLab, para facilitar o compartilhamento de
insumos, como reagentes e linhagens celulares.
Entre os principais obstáculos enfrentados por cientistas estão a burocracia
para a aquisição dos materiais, o valor elevado para compra e também a demora
na entrega, já que muitos insumos precisam ser importados.
A falta de insumo pode levar ao cancelamento de pesquisas, cujos resultados
acabariam se revertendo em benefício à sociedade. No contexto da pandemia de
covid-19, os atrasos tendem a piorar, com a redução da malha aérea.
A proposta da SociaLab é simples: quem estiver precisando de um insumo, ou
tiver algum disponível, registra na plataforma. Na mensagem, devem ser
informados o item desejado, a quantidade e dados para contato, para facilitar a
comunicação. Após cruzar informações, usuários com compatibilidade entre oferta
e procura podem combinar os detalhes do envio do produto.
Como a plataforma é gratuita, o único gasto gerado é relativo à postagem do
material, que fica por conta da pessoa que solicitou a doação. No total, até a
última quarta-feira (31), já haviam sido cadastrados cerca de 90 laboratórios
de todo o país, na base da plataforma.
A plataforma foi idealizada pelo professor Lucio de Freitas Junior,
do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Ele conta que vem
aperfeiçoando a ideia há três anos e que “foi feita a muitas mãos”,
pois acolheu sugestões apresentadas por pessoas da comunidade universitária.
Para ter, compartilhar
O professor diz que a ação tem despertado o interesse de reitores de
diversas universidade e instituições de pesquisa de outros países. Para ele, a
execução foi agora possível em decorrência de uma nova mentalidade do mundo
como um todo, que agora se voluntaria a se organizar de forma diferente, com
mais inclinação à partilha.
“A gente tem que se adaptar a condições mais rápidas, mais dinâmicas, não
pode ficar perdendo tempo com bobagem. A gente tem que racionalizar o dinheiro
de uso público, não por ser altruísta, porque é uma coisa bonita de ser, mas
porque é o mais inteligente. Quem ajuda é ajudado”, pondera, acrescentando
que chegou a perder potenciais parceiros, por se recusar a topar que o acesso à
plataforma fosse pago.
Um relatório da Research in Brazil (Pesquisa no Brasil, em português),
elaborado pela Clarivate Analytics, a pedido da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes), mostrou que quase a totalidade da pesquisa
produzida no país é resultado do esforço das universidades públicas.
E um outro levantamento feito pela equipe do SocialLab revelou que, em
média, os pesquisadores utilizam, no máximo, 20% dos reagentes e que o resto
não é aproveitado, pois perde a validade. “A gente gasta dinheiro público
em algo que não precisaria estar gastando tanto. Você vai perder 80% daquele
material que você comprou. Você não pode ficar usando coisa vencida. O que você
faz com isso? A universidade é responsável por coletar isso. Tem todo um
pessoal que trabalha na universidade com carros especiais, locais especiais,
todo um procedimento de segurança para buscar, armazenar, levar, para,
eventualmente, isso ser incinerado. É muito dinheiro.”
Logo após o lançamento, o grupo de pesquisadores aproveitou o momento em que os
usuários da plataforma se cadastravam para solicitar que respondessem uma
enquete, que indicou que a maioria deles aguarda meses pela chegada de insumos.
Foram ouvidos 225 cientistas de todos os estados brasileiros. “Sessenta e
dois pesquisadores falaram que tinha que esperar até três meses pelo reagente
para fazer o experimento; 63, seis meses; 22 esperam mais de nove meses. E olha
que interessante: 64 pessoas esperaram tanto que desistiram de fazer o experimento”,
afirma Freitas Junior, complementando que a plataforma também ajuda os
cientistas a organizar seus laboratórios, cujas catalogações ficam
frequentemente desatualizadas, pela correria da rotina de trabalho.
Um relatório da Research in Brazil (Pesquisa no Brasil, em
português), elaborado pela Clarivate Analytics, a pedido da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), mostrou que quase a
totalidade da pesquisa produzida no país é resultado do esforço das
universidades públicas.
E um outro levantamento feito pela equipe do SocialLab revelou que, em
média, os pesquisadores utilizam, no máximo, 20% dos reagentes e que o resto
não é aproveitado, pois perde a validade. “A gente gasta dinheiro público
em algo que não precisaria estar gastando tanto. Você vai perder 80% daquele
material que você comprou. Você não pode ficar usando coisa vencida. O que você
faz com isso? A universidade é responsável por coletar isso. Tem todo um
pessoal que trabalha na universidade com carros especiais, locais especiais,
todo um procedimento de segurança para buscar, armazenar, levar, para,
eventualmente, isso ser incinerado. É muito dinheiro.”
Logo após o lançamento, o grupo de pesquisadores aproveitou o momento em que os
usuários da plataforma se cadastravam para solicitar que respondessem uma
enquete, que indicou que a maioria deles aguarda meses pela chegada de insumos.
Foram ouvidos 225 cientistas de todos os estados brasileiros. “Sessenta e
dois pesquisadores falaram que tinha que esperar até três meses pelo reagente
para fazer o experimento; 63, seis meses; 22 esperam mais de nove meses. E olha
que interessante: 64 pessoas esperaram tanto que desistiram de fazer o
experimento”, afirma Freitas Junior, complementando que a plataforma
também ajuda os cientistas a organizar seus laboratórios, cujas
catalogações ficam frequentemente desatualizadas, pela correria da rotina
de trabalho.
“O meu grupo tem muita vivência com drogas para influenza. Nós
achamos droga para zika, chikungunya, febre amarela, durante o surto. Só que
agora, com o coronavírus, estamos lidando com algo realmente muito mais
complicado, porque parou toda a cadeia produtiva. Então, não dá mais para
encomendar nada. Os vendedores sumiram, as entregas não são feitas. A pesquisa
de coronavírus, por outro lado, para desenvolver diagnóstico, para fazer droga,
não pode parar. O que aconteceu? O sistema entrou em colapso, os reagentes
acabaram”, relatou.
“Estava aqui, no andar de cima, um dos reagentes superimportantes. Ele [o
colega] conseguiu o reagente que eu precisava, que, de outra forma, não
conseguiria. É impressionante. Está acontecendo, está funcionando.”