SP tem mais de 600 profissionais de saúde afastados devido à covid-19
Número deve aumentar nos próximos dias
Os sistemas de saúde público e particular do estado de São
Paulo tiveram de afastar, desde fevereiro, mais de 600 profissionais devido à
suspeita ou a confirmação da infecção por coronavírus nos funcionários.
O número de trabalhadores da área da saúde que precisarão ser removidos deve
aumentar nos próximos dias. A Justiça paulista autorizou que funcionários do
setor, que se enquadrem no quadro de risco para coronavírus, fiquem afastados
dos hospitais.
Segundo levantamento do Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e
Autarquias no Município de São Paulo (Sindsep), ao menos 190 funcionários do
sistema público municipal de São Paulo foram afastados, desde o último dia 15,
em razão da suspeita de coronavírus. O Hospital Municipal Doutor Carmino Caricchio,
no Tatuapé, na zona Leste, é o destaque, com 45 afastamentos.
Na rede privada, dois dos mais importantes hospitais do estado removeram, desde
fevereiro, mais de 450 profissionais diagnosticados com o coronavírus. O
Hospital Sírio-Libanês afastou 104 funcionários. Já o Hospital Albert Einstein
teve de remover 348 dos 15 mil colaboradores (2%), diagnosticados com a doença.
Sem estimativa
No sistema público estadual ainda não há informações sobre a quantidade de
profissionais afastados do trabalho em razão da contaminação de coronavírus. No
entanto, decisão liminar do juiz do Trabalho Moisés Bernardo da Silva, da 58ª
Vara do Trabalho de São Paulo, determinou a liberação dos profissionais que se
enquadrem no grupo de risco para o coronavírus.
A decisão beneficia os profissionais do Hospital das Clínicas de São Paulo
(HC-SP), do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São
Paulo (Iamspe) e os trabalhadores contratados via Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT) que atuam na administração direta.
“Liberem imediatamente das atividades presenciais os empregados substituídos
processualmente que estejam enquadrados no grupo de risco, assim compreendidos
os idosos com 60 anos ou mais, as gestantes, os portadores de doenças
respiratórias crônicas, cardiopatias, diabetes, hipertensão, doenças renais, ou
de quaisquer outras afecções que deprimam o sistema imunológico,
assegurando-lhes todos os direitos e benefícios do contrato de trabalho”, diz
texto da decisão.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo
(SindSaúde-SP), que ingressou com a ação, já há falta de profissionais na
saúde, além do envelhecimento dos que estão na ativa. De acordo com a entidade,
quase 60% dos trabalhadores da saúde no estado estão acima de 50 anos; destes,
mais de 15% tem mais de 60 anos.
“As trabalhadoras e os trabalhadores da saúde pública, que compõem o grupo de
risco, não podem pagar com suas vidas pelos erros recorrentes do governo do
estado que não realizou os concursos necessários e, agora, vive o reflexo da
falta de pessoas”, destaca a presidente do SindSaúde-SP, Cleonice Ribeiro.
Governo de São Paulo
Em nota, o governo de São Paulo disse que prepara defesa e vai recorrer da
decisão imediatamente, assim que seja notificado. O Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo informou que o afastamento
de todos os funcionários do grupo de risco poderá inviabilizar a operação para
transformar o instituto central em uma ala exclusiva, com 900 leitos, dos quais
200 UTIs, para tratamento de pacientes com covid-19.
“É preocupante que a Justiça interfira no funcionamento dos hospitais públicos,
especialmente em época de pandemia, uma vez que o afastamento de profissionais
sem o devido critério preconizado pelas autoridades sanitárias pode comprometer
a assistência prestada à população”, disse, em nota, a Secretaria de Estado da
Saúde.
Segundo o órgão, todos os funcionários do grupo de risco já foram realocados
para “locais de baixo risco, como setores administrativos”. A secretaria
informou ainda que todos os trabalhadores estão recebendo atendimento e,
aqueles que apresentam sintomas, estão sendo submetidos ao teste para
coronavírus. “Aqueles que têm o exame positivo estão isolados e recebendo
tratamento de acordo com protocolo”.