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Tragédia em boate mobiliza cidades contra falhas em casas noturnas

29/01/2013 14h59 - Atualizado há 11 anos Publicado por: Redação
Tragédia em boate mobiliza cidades contra falhas em casas noturnas

Uma onda de fiscalizações em casas noturnas se disseminou por prefeituras de todo o país, alarmadas pelo incêndio que deixou 231 mortos, na maioria jovens, em uma boate na cidade gaúcha de Santa Maria, durante show de uma banda na madrugada de domingo.

 

Manaus já fechou 17 boates por questões de segurança e promete fazer uma varredura em 108 estabelecimentos da cidade até o fim de semana. Em Americana, interior de São Paulo, a prefeitura cancelou os alvarás de todas as boates da cidade e se reunirá com os proprietários para garantir o cumprimento das normas. Medidas similares de inspeções foram determinadas em Salvador, Porto Alegre e Niterói (RJ).

“Evidentemente que todos nós ficamos chocados com a tragédia de Santa Maria e começou ontem (segunda), aqui em Manaus, uma ação no sentido de fazermos uma varredura total”, disse à Reuters por telefone o prefeito em exercício Bosco Saraiva. A medida foi determinada pelo prefeito Arthur Virgílio (PSDB), que está em Brasília em um encontro de prefeitos.

Segundo Bosco, de 27 casas fiscalizadas 17 tiveram que ser fechadas. “Essa dado inicial nos preocupou de sobremaneira.”

Na segunda-feira, em discurso a prefeitos, a presidente Dilma Rousseff, pediu maior rigor nas fiscalizações.

“Fui a Santa Maria e a dor que presenciei é indescritível. Falo dessa dor para lembrar a responsabilidade que todos nós, do Poder Executivo, temos com a nossa população. E, diante dessa tragédia, temos o dever de assumir o compromisso, de assegurar que ela jamais se repetirá”, disse.

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul disse na segunda-feira que as investigações até agora já apontaram que o incêndio foi causado pelo acionamento de um sinalizador durante o show da banda Gurizada Fandangueira e que as portas da boate dificultaram a saída das pessoas do local.

Também na segunda, quatro pessoas foram presas –os dois donos da boate e dois integrantes da banda. O sinalizador que iniciou o incêndio teria sido acionado por um dos integrantes do grupo musical, mas segundo a polícia, até agora nenhuma das pessoas ouvidas assumiu ter acionado o artefato.

A tragédia em Santa Maria foi a segunda maior provocada por um incêndio na história do Brasil, atrás somente do incêndio em um circo em Niterói, em 1961, que deixou mais de 500 mortos.

O número de mortos no incêndio na boate Kiss ainda pode aumentar, já que ainda há 75 pessoas internados em estado grave e respirando com ajuda de aparelhos, por conta da inalação de fumaça tóxica.

 

REVOLTA

Em Santa Maria, ainda abalada pela tragédia, a tristeza vai aos poucos dando espaço à indignação com a sucessão de erros que veio à tona desde o incêndio.

Parte do comércio da cidade permanecia com as portas fechadas na manhã desta terça, alguns estabelecimentos ainda mantêm faixas pretas ou com a inscrição de luto nas portas. No principal hospital da cidade, onde vítimas permanecem internadas, o movimento ainda é intenso.

“Consternação ainda é o sentimento que prepondera entre as famílias”, disse o diretor do núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado, João Carmona.

Entre os jovens que perderam colegas, no entanto, o sentimento também é de revolta. Durante uma marcha na noite de segunda, cerca de 15 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, vestiram-se de branco e foram às ruas.

Entre as faixas, cartazes e fotos para lembrar amigos ou familiares mortos, era possível ver indignação.

“Alvará para quê? Fiscalizar para quê? Pagaste imposto para quê? O poder público faz… o quê?”, questionava uma das faixas.

Momentos de silêncio eram alternados com palmas, gritos de “justiça” e orações.

“Ainda não caiu a ficha. Como eu posso ter perdido nove amigos em segundos”, perguntou o jovem Rodrigo Pivetta, que levava um cartaz com a foto dos nove amigos mortos na tragédia.

Um dos organizadores da passeata, o professor Paulo Xavier disse que a iniciativa surgiu com a vontade de fazer um misto de protesto e homenagem aos amigos mortos.

“Havia meninos e meninas ali que eu conheci com 9, 12 anos. Seus sonhos acabaram”, disse ele. (reportagem adicional de Maria Carolina Marcello, em Brasília, e Eduardo Simões, em São Paulo)

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