Editorial: Explosão de coronavírus – Ação e reação
Dia 22 de março de 2020. O Jornal Primeira Página estampava uma
estatística estarrecedora diante de um inimigo sorrateiro e desconhecido. O
novo coronavírus poderia resultar em mais de 2 mil mortes, disse, em uma
reunião, o presidente da Unimed São Carlos, Daniel Canedo. Quarenta e seis dias
depois, a cidade, literalmente, respira aliviada. Pelo menos por enquanto. A
estatística do caos não se materializou. A atualização do quadro da covid-19
apontava, até a quarta-feira, 6, três mortes – uma delas de uma são-carlense
que estava em Ribeirão Preto, mas como preconizam os protocolos, o caso soma-se
à estatística local. A nossa vizinha Araraquara, por exemplo, apresenta 110
casos confirmados e quatro mortes – números que preocupam.
Há uma série de fatores a serem elencados a esta vitória, ao menos momentânea,
na batalha travada com este inimigo oculto, porém altamente letal. A
conscientização de uma parcela expressiva da população, que respeitou o
isolamento social pedido pelas autoridades de saúde e sanitárias nas primeiras
semanas foi um dos fatores. Contudo, a população precisa aguentar mais um
pouco. Os índices abaixo de 50% podem postergar a retomada das atividades. E
este é um sinal negativo.
Os esforços das autoridades públicas e de saúde de São Carlos merecem um
destaque à parte. Primeiro, o prefeito Airton Garcia, que compreendeu bem a
complexidade do problema. Soube ouvir e agir com a razão, diferente de outros
agentes públicos nas esferas estadual e federal que peitaram o vírus e,
consequentemente, colocaram as estabilidades política e econômica do Brasil em
risco.
Enquanto plano privado, a Unimed São Carlos não virou as costas ao município.
Trabalhou pari passu em busca da
contenção do vírus, disponibilizando seus aparatos técnico e profissional à
população, independente de convênios, em caso de necessidade.
Por último, a Rede Pública demonstrou o quanto o Sistema Único de Saúde é
importante para contemplar as necessidades de um povo carente. Mesmo sucateado
e desacreditado, é o SUS quem segura as maiores dificuldades enfrentadas até
aqui. Além dos valorosos funcionários das UPAs e do SAMU, cabe um destaque à
Santa Casa de Misericórdia, que não esmoreceu e encarou mais este desafio. O
Hospital Universitário, tão criticado por quem não conhece o sistema de
atendimento referenciado, a popular porta fechada, também se eximiu da sua
missão. Como já noticiado por este Primeira
Página, destinou 66% dos leitos aos pacientes de covid-19.
Hora de relaxar? Evidente que não. As medidas de prevenção e combate ao novo
coronavírus ainda se fazem necessárias. Porém, traz margem para o município
traçar um planejamento de retomada da economia. Não custa lembrar que o
comércio de São Carlos foi atingido por duas enchentes que antecederam a
pandemia. E como reflexo disso, a cidade pode aumentar a fileira de
desempregados e portas de estabelecimentos baixadas. O ditado “melhor falido do
que falecido” é pura bravata e não funciona no mundo capitalista. O importante,
agora, é trabalharmos para evitarmos ambas as coisas.