Professor Hernandes, de São Carlos, concorre à vaga de reitor da USP
Eleições estão previstas para hoje, das 9h às 18h, por meio de sistema eletrônico; mandato será de quatro anos, a partir de 2022
Reportagem: Hever Costa Lima
A Universidade de São Paulo (USP) escolherá nesta quinta-feira, 25, em eleição indireta, um novo reitor para o mandato de quatro anos (2022-2026), que terá o desafio de superar as desigualdades de ensino criadas durante o período da pandemia.
Apenas duas chapas se inscreveram para a disputa este ano: a “Somos Todos USP”, que é encabeçada pelo físico Antonio Carlos Hernandes, do Instituto de Física de São Carlos e tem como candidata a vice-reitora Maria Aparecida Machado, da Faculdade de Odontologia de Bauru); e a chapa “USP Viva”, encabeçada pelo médico Carlos Carlotti Junior, da cFaculdade de Medicina de Ribeirão Preto e que tem Maria Arminda Arruda, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas como candidata a vice-reitora.
Os dois candidatos faziam parte da atual gestão do reitor Vahan Agopyan. Eles se licenciaram dos cargos de vice-reitor e pró-reitor de pós-graduação, respectivamente, para concorrer.
A eleição será realizada em turno único, das 9h às 18h, por meio de sistema eletrônico de votação e totalização de votos. A Assembleia Universitária é formada por cerca de 2 mil representantes dos Conselhos Universitário e Centrais e ainda pelas Congregações das Unidades e pelos Conselhos Deliberativos dos Museus e dos Institutos Especializados.
Segundo a universidade, observadores externos vão acompanhar o processo de eleição dos novos reitor e vice-reitor. Uma das novidades do processo é a constituição de uma comissão formada por observadores externos à universidade, sendo três titulares e um suplente, com a incumbência de acompanhar o sistema eletrônico de votação e a totalização de votos.
O reitor e o vice-reitor, professores titulares da USP, serão nomeados pelo governador João Doria (PSDB) a partir da lista composta pelas chapas mais votadas. A nova gestão da universidade terá início no próximo dia 25 de janeiro de 2022, com mandato de quatro anos.
A USP tem cerca de 97 mil alunos matriculados em cursos de graduação e pós-graduação, 5,3 mil professores e 13,3 mil funcionários espalhados por 8 campi.
Tradicionalmente, os governadores escolhem o candidato mais votado na lista tríplice. Mas houve duas ocasiões em que o governo escolheu o segundo colocado: em 2009, na gestão José Serra (PSDB); e em 1969, na gestão de Paulo Maluf (antiga Arena) durante a ditadura militar.
PROPOSTAS – Os candidatos a reitor da USP, Antonio Carlos Hernandes, e Carlos Carlotti Junior, responderam perguntas à imprensa paulista durante esta semana. Questões se destacaram em reportagens veiculadas na rede social. Entre elas, a defesa da ciência, como pensam em propor aumento salarial para os servidores da universidade e ainda a inclusão e diversidade.
Ambos defendem políticas de diversidade e inclusão social para dar continuidade às ações que fizeram com que a universidade chegasse, pela primeira vez na história, à maioria de novos alunos vindos de escolas públicas. Com alívio nas contas da USP após crise financeira, eles também acreditam ser possível um reajuste salarial e novas contratações de professores e funcionários.
A adesão ao Sisu e o sistema de cotas iniciado em 2017 fizeram com que a USP chegasse, em 2021, a 51,7% dos ingressantes oriundos de escolas públicas, sendo 44,1% autodeclarados pretos, pardos e indígenas. Os candidatos pretendem avançar em políticas de inclusão.
A chapa “Somos Todos USP” propõe a criação de um “Conselho Especial de Inclusão e Diversidade”, composto pela academia e por representantes da sociedade civil.
“Dentro desse conselho terão grupos temáticos étnico-raciais, de gênero, LGBTQIA+ e de acessibilidade, que vão decidir os próximos projetos para esse processo de inclusão e diversidade. O conselho vai atuar transversalmente, de maneira descentralizada. A universidade sozinha já fez a parte dela, agora é necessário trabalhar em conjunto com a sociedade”, diz Hernandes.
Já a chapa “USP Viva” defende a criação de uma nova pró-reitoria para coordenar e apoiar as políticas de permanência estudantil, saúde integral e inclusão social.
“O principal é uma gestão para as pessoas. A USP fez um grande processo de inclusão. O que nós precisamos agora é fazer, com a mesma intensidade, um processo que acolha essa inclusão. Nós precisamos ter um processo de permanência estudantil. A inclusão não é só financeira. É acadêmica, uma preocupação com saúde mental, uma preocupação com oportunidades”, diz Carlotti.
PANDEMIA – A pandemia trouxe disparidade de condições de acompanhamento para alunos de todas as etapas do ensino e na USP não foi diferente. Alguns cursos da área da saúde, por exemplo, continuaram com as aulas práticas essenciais mesmo com o fechamento durante a quarentena. Já os cursos teóricos realizaram atividades apenas de forma online até outubro de 2021, data do retorno presencial na universidade.
“A mudança que fizemos para o ensino não presencial foi quase emergencial. Fomos nos adaptando, fomos aprendendo. Na nossa proposta estamos pedindo para que todas as unidades e todos os cursos façam uma análise rigorosa do que perdemos para fazer um plano de reposição para o ano que vem. Dependendo de cada curso, tudo está na mesa de como podemos compensar, até fazer uma prorrogação do prazo para o aluno se formar”, afirma Carlotti.
DEFESA DA CIÊNCIA – No contexto nacional de ataques à ciência e propagação de notícias falsas, Hernandes e Carlotti também destacam a importância da autonomia e produção intelectual qualificada da universidade.
“Nosso objetivo é fazer com que a sociedade venha para a universidade e a universidade vá até a sociedade. Nós levaremos informação qualificada, cursos de difusão [cursos curtos]. E do ponto de vista da sociedade, trazer para dentro da universidade os problemas para que a gente possa conjuntamente encontrar soluções. Não só para questões específicas, mas também para aquelas gerais do estado e do país”, diz Hernandes.
“O valor do ensino e o valor da ciência são os fatores que podem transformar a sociedade. Quando temos um ataque a esses valores, na verdade você não está atacando a universidade, está atacando uma eventual melhora da sociedade. Queremos que, não só os pesquisadores da USP tenham sua opinião, como a instituição se posicione sobre esses grandes problemas. E aí as propostas poderão ser transformadas em políticas públicas”, diz Carlotti.
AUMENTO DE SALÁRIOS – Após passar por uma grave crise financeira, a USP congelou novas contratações e reajustes salariais e iniciou um programa de incentivo à demissão voluntária. De acordo com os candidatos, o reequilíbrio recente das contas permitirá aumento de salário para professores e funcionários na próxima gestão.
“Existe uma defasagem salarial bastante grande, principalmente com a inflação tão alta. Isso nós temos que fazer um reparo. Como tivemos uma crise financeira e depois uma legislação que impedia a contratação, temos um déficit tanto de servidores como de professores. Então precisamos recuperar o número e melhorar o salário”, diz Carlotti.
“O trabalho que foi feito para melhorar a eficiência de gastos da universidade permitiu que chegássemos agora com um impacto da folha de pagamento ao nível mais baixo em 10 anos. Temos espaço para que possamos reajustar os salários dos professores e dos funcionários, com o mínimo da inflação dos dois últimos anos”, afirma Hernandes.