Psicanálise de Rua completa um mês com bons resultados
As atividades do “Coletivo Psicanálise de Rua”, em São Carlos, estão completando um mês nesta semana. Cerca de 90 pessoas já passaram pelo atendimento psicanalítico gratuito, ofertado aos sábados pela manhã, na Praça Pedro de Toledo, que já abrigou a antiga Piscina Municipal e onde hoje se localiza a Biblioteca “Amadeu Amaral”. Embora os profissionais envolvidos considerem cedo para fazer um balanço dos resultados, os usuários já apontam resultados positivos e mudanças na maneira de ver e encarar os problemas.
Para ser atendido, basta comparecer à praça no sábado, entre 11h e 13h. Não há necessidade de agendamento nem encaminhamento e as consultas são feitas por ordem de chegada.
Pelo menos 13 pacientes passaram por todas as 4 sessões já realizadas até o momento. Como o projeto é coletivo, é provável que, em cada semana, o paciente seja atendido por um profissional diferente, o que não compromete a qualidade do serviço. De acordo com a psicanalista Claudia Gigante Ferraz, responsável pela implantação do projeto em São Carlos, aposta deste modelo de atendimento é fazer com que o paciente construa seu próprio projeto terapêutico e o objetivo é tratar o sofrimento que ele apresentar no momento da consulta.
O perfil do usuário atendido neste primeiro mês é de pessoas de classe média e baixa em busca de acolhimento e auxílio para tratar sofrimentos relacionados a psicose, desejo de suicídio, desamparo social, como violência e preconceito. A escuta ativa feita pelos profissionais ajuda o paciente a ver os problemas por outra perspectiva, a sair do lugar de objeto e a reconstruir-se enquanto sujeito.
Claudia Ferraz afirma que trazer o modelo exato do consultório para praça seria caridade e que este não é o objetivo do projeto, que também não pretende suprir nem substituir aquilo que o Estado deveria oferecer. Segundo ela, o que se está fazendo é apostar num formato totalmente inovador, daí a cautela em falar em resultados com apenas um mês de atendimento.
Ao todo, 15 profissionais estão envolvidos na atividade, que prevê não apenas o atendimento em si, mas reuniões semanais para estudo e discussão dos casos atendidos. O projeto não tem custo nem recebe financiamento. O único investimento foi a aquisição das cadeiras que acomodam pacientes e psicanalistas movidos pelo desejo de analisar.
Inspirado no projeto de Tales Ab´Saber, o Psicanálise de Rua é realizado há 2 anos e meio em São Paulo – na Praça Roosevelt e na Casa do Povo – ; em Brasília e em Curitiba. São Carlos é pioneira em implantar o projeto no interior e já inspira cidades como Campinas, Piracicaba e Ribeirão Preto.
APROVAÇÃO DO USUÁRIO – Após passar pelo terceiro atendimento, a estagiária Natália Carolina Ramos elogiou a iniciativa, que ela considera uma oportunidade de inclusão. “Todos, em maior ou menor grau, precisam”, disse, lembrando que ainda há muito preconceito quando o assunto é a saúde mental. Segundo ela, nos equipamentos de saúde públicos a fila de espera por atendimento psicológico especializado praticamente inviabiliza o tratamento, por isso, a iniciativa do Coletivo deve ser valorizada. “Indico para todos que eu conheço”. Mesmo que você esteja bem, faça, porque o processo autoconhecimento nunca acaba’, conclui.
O estudante Iberê Araújo da Conceição, também aprova a implantação do projeto. Ele ressalta que o acesso à psicanálise ainda é restrito a pessoas com melhores condições sociais e financeiras e que, agora, as pessoas que mais precisam e costumam ser mais vitimizadas podem encontrar apoio no atendimento coletivo em praça pública, o que possibilita a construção de relações mais saudáveis. “ A gente não tem como melhorar enquanto sociedade se a gente não se cuidar”, finaliza. (Marta Julião)
