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São Carlos foi a “vice-campeã” em número de escravos

Município só ficou atrás de Campinas na aquisição de negros para trabalhar na lavoura como escravos no Século XIX

04/11/2020 09h26 - Atualizado há 4 anos Publicado por: Redação
São Carlos foi a “vice-campeã” em número de escravos Foto: Reprodução

A contribuição da raça negra na construção de São Carlos é algo inquestionável e que está gravado na história do município desde a época áurea do café, no Século XIX, até hoje, com tradições, como a capoeira, a feijoada e o samba, entre outros, o que desafia o racismo que insiste em persistir.

De acordo com dados do “Inventário Analítico: A escravidão em São Carlos” do Prof. Álvaro Rizzoli, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), durante o período escravocrata, São Carlos atingiu o segundo lugar no tráfico de escravos para o interior paulista, perdendo somente para a região de Campinas.

A economia da povoação era totalmente agrária com alguma produção de cana e quase toda voltada para a subsistência. Nessa época o negro era a base da produção sendo o escravo quem trabalhava o campo e produzia o alimento e a renda.

Tráfico negreiro Em meados de 1850, a expansão do café traz para a região um salto econômico. São Carlos torna-se então um forte núcleo comprador de escravos. Uma vez que o tráfico da África havia sido bloqueado, os negros vinham principalmente de estados nordestinos e de Minas Gerais, onde a economia estava em crise. O café era então a riqueza fundamental de São Carlos, sendo a produção essencialmente destinada ao mercado externo (Europa e Estados Unidos).

Censo de 1874 – O primeiro censo foi realizado na cidade em 1874. A matrícula era um documento de registro de propriedade de homens e mulheres na condição de escravos. Os documentos mostram que os escravos tinham somente o nome de batismo, e eram registrados somente com o nome da mãe. Além disso havia nomes repetidos, e o filho às vezes era batizado com o nome do proprietário ou de um santo.

Com isso, torna-se muito difícil acompanhar os caminhos percorridos por um escravo desde sua origem e localizar seus descendentes. Vindos de diversas nações africanas, suas culturas foram mantidas dentro das senzalas: comida, dança, música e religião, que diante da pressão do catolicismo oficial do Estado, sobreviveu através do sincretismo que perdura até o presente.

Documentos incinerados – A dificuldade de se encontrar dados precisos relativos à escravidão se deve, principalmente, ao fato da determinação de 1890 que mandou incinerar os documentos de matrículas das Coletorias de Renda. Tais registros comprovavam a propriedade do escravo, e com sua eliminação se evitou a pressão dos ex-proprietários em exigir indenização do Estado pela Abolição.

O escravo não era considerado cidadão, e não possuía os direitos correspondentes. O Código Comercial da época incluía os escravos entre os bens semoventes; embora isto não os transformasse em objeto passível de comércio, eles eram transacionados. A prática era utilizar procurações para compra e venda; assim, comerciantes e fazendeiros se tornavam procuradores para as transações, escamoteando a comercialização de escravos. Havia também os chamados “negociantes”, que nada mais eram que comerciantes de escravos. O Estado recolhia impostos sobre as transações de escravos, e cobrava normalmente pela emissão de certidões que comprovavam sua posse, bem como de outros documentos relativos aos mesmos.

Riqueza e miséria, sempre juntas Em 1870, a produção de café na Província de São Paulo correspondia a 16% da produção nacional; em 1885, São Paulo já produzia 40% do café brasileiro. Esse fato se refletia na valorização das terras produtivas e da mão-de-obra escrava. O escravo alcançava um alto preço e nos inventários registrados na cidade de São Carlos chegavam a ser 66% do patrimônio do senhor.

As condições de vida da população eram precárias naquele tempo. Dignas de nota foram as duas grandes epidemias de varíola que passaram pela cidade. Se a população livre não tinha boas condições sanitárias, ainda piores eram as condições de vida dos cativos. A idade média de um escravo era de 30 anos, sendo que com cerca de 10 anos de trabalho produtivo já estava esgotado. As maiores “causa-mortis” entre os escravos eram: traumatismos, doenças cardiovasculares e inanição.

Região da Vila Pureza era conhecida por “cinzeiro”

Entre junho e julho de 1887, diversas cidades da província de São Paulo libertam seus escravos; a alforria era normalmente condicionada à prestação de serviços (em alguns casos, essa prestação de serviços implicava na servidão a outros membros da família do senhor). Em São Carlos, alguns fazendeiros de comum acordo libertaram plenamente seus escravos em dezembro de 1887. Em 13 de maio de 1888, 3.726 escravos na cidade foram libertos pela Lei Áurea.

O fim da escravidão se deu por caminhos diferentes dependendo da situação econômica da província – no caso de São Paulo, os escravos foram substituídos pelos imigrantes.

Deixando as fazendas, os ex-escravos e seus descendentes se concentraram em determinadas regiões: na Biquinha, fonte próxima ao cemitério dos escravos da Fazenda do Pinhal, que ocupava as imediações da atual Cúria Diocesana e do Teatro Municipal – Vila Pureza – região da Santa Casa de Misericórdia atual.

A região que agora é próxima à Santa Casa era conhecida por Cinzeiro. Lá se acendiam fogueiras e havia batuques à noite. Mais tarde, os caminhos abertos pelos negros até esse local foram urbanizados, criando as primeiras ligações da Vila Pureza até a região da Estação Ferroviária.

No final do século, a irmandade de São Benedito conseguiu a posse das terras do primeiro cemitério da cidade, construindo nele a Igreja de São Benedito, importante marco de entrada da cidade, próximo à Estação Ferroviária.

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