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“São Carlos tem potencial para resolver seus problemas”, afirma especialista

Entre o surgimento da internet no Brasil e 2020, município ganhou um total de 75 mil habitantes e novos desafios, como as enchentes

20/10/2020 06h54 - Atualizado há 3 anos Publicado por: Redação
“São Carlos tem potencial para resolver seus problemas”, afirma especialista Foto: Divulgação

O município de São Carlos cresceu 75 mil habitantes em 25 anos. Entre 1995 e 2020, o município ganhou uma população que dá o total atual de habitantes de Pirassununga, por exemplo. Mas, se por um lado, este crescimento demográfico gera muitos desafios, a cidade também avança na possibilidade de soluções para seus problemas.

A análise é da arquiteta e urbanista Sandra Regina Mota Silva, professora do Curso de Engenharia Civil da UFSCar. Ela explica que o Estado de São Paulo possui uma robusta rede urbana na qual se destacam as cidades de porte médio, aquelas com população entre 100.000 e 500.000 habitantes, de acordo com IBGE. “São Carlos faz parte desse grupo e suas taxas de crescimento populacional são expressivas desde a década de 1970, sendo superiores às taxas de crescimento do estado de São Paulo e do Brasil”, explica Sandra.

A urbanista ressalta que essa dinâmica de crescimento demográfico foi decorrente de um processo de reestruturação produtiva que desencadeou a interiorização de um conjunto de atividades econômicas. Nesse contexto, São Carlos se revelou um importante centro de prestação de serviços educacionais de qualidade, com campi universitários e centros de pesquisa reconhecidos, impulsionando a constituição de empresas de base tecnológica. “Essa configuração foi viabilizada por redes de transportes e comunicações que têm favorecido o crescimento de cidades, especialmente daquelas dispostas ao longo das melhores rodovias estaduais”.

Os estudos da especialista revelam que a população crescia em velocidade maior que a atual há algumas décadas. “Observa-se também que, no caso de São Carlos, a partir da década de 1940, a cada 30 anos, houve uma duplicação da população. Esse fenômeno ocorreu até o ano 2000, tendo uma refreada na última década. Tal condição, além de boas oportunidades para a melhoria das condições de vida da população como um todo, traz, também, um conjunto de desafios para a gestão da cidade”, destaca Sandra.

Segundo ele, para se compreender os desafios que as cidades enfrentam, em primeiro lugar é preciso reconhecer sua dinâmica de transformação permanente, nunca estão prontas. “Seria utópico imaginar que as cidades possam atingir um patamar de excelência e assim permanecer, sem nenhum novo desafio a ser enfrentado. Diante de tal inviabilidade, o fato é que as cidades estão sempre tentando resolver problemas, incorporar soluções e superar as questões mais emergenciais. E é justamente nesse ponto que residem as maiores dificuldades e entraves, e a grande indagação é sobre a forma viabilizar estruturas administrativas, técnicas e operacionais que consigam corresponder a tantos desafios de forma eficaz”, comenta.

De acordo com a especialista, pelo contexto mundial, observa-se que as sociedades mais desiguais, como é o caso da realidade brasileira, têm tido mais dificuldades para conseguir viabilizar e consolidar cidades com benfeitorias, serviços e infraestruturas acessíveis a todos os cidadãos, o que além de ser um direito mundialmente reconhecido, é uma prioridade inadiável para uma boa gestão de cidades. Essa é uma lacuna crucial decorrente das contradições de um país que ainda não superou problemas estruturais resultantes de sua própria história. “Mas vamos deixar de lado nossas contradições de origem e focar em experiências que possam ser praticadas aqui no Brasil e em outros locais em condições semelhantes.”

Ela explica ainda que a prática das gestões urbanas tem revelado que existe um dilema significativo na dupla capacidade que se requer para resolução de problemas do cotidiano, sem perder a capacidade de se pensar e planejar o futuro. “Vale lembrar que em uma gestão pública é preciso ter projetos e políticas públicas adequadas para as áreas de educação, saúde, habitação, esporte, cultura, lazer, meio ambiente, mobilidade urbana, infraestrutura de água, esgoto, drenagem, resíduos, energia, etc. Na esfera urbanística, o que está por trás desse desafio, é a instituição de procedimentos e práticas que forneçam as bases para se constituir um setor dedicado ao planejamento urbano como uma atividade permanente, com suporte técnico, instrumental e operacional”.

Sandra deixa claro que não é nada fácil se chegar a esse patamar de maturidade administrativa. “Isso implica um conjunto de medidas que integrem um potente sistema de informações, com dados especializados, mapeáveis, permanentemente atualizáveis, para que se tenham diagnósticos precisos que revelem tendências e contribuam nas tomadas de decisões políticas, técnicas e administrativas. Além disso, vale mencionar a necessária condição de independência das descontinuidades administrativas a cada 4 anos, para que as ações e projetos possam ter efetividade, se consolidem e beneficiem o conjunto da população. ”

Os estudos de Sandra revelam que o crescimento e expansão das cidades se dão em duas frentes. A primeira delas, pelo adensamento decorrente da verticalização com a construção de mais edifícios de múltiplos pavimentos que irão concentrar mais unidades habitacionais do que o conjunto de moradias térreas que antes ocupavam o mesmo espaço. A segunda frente se dá pelo espalhamento territorial, com a dispersão de empreendimentos condominiais e conjuntos habitacionais nas bordas urbanas. “Tanto o incremento de densidade, como a expansão horizontal, vão pressionar a demanda por infraestrutura em todas as modalidades mencionadas”.

Segundo ela, nem São Carlos, duas das políticas urbanas mais difíceis de equacionar a contento, tem sido a da mobilidade urbana e a de drenagem das águas pluviais. Não que outras esferas não tenham problemas, mas essas duas implicam em transformações mais estruturais. É bom lembrar que os ajustes de demanda de redes de água, esgoto e energia são onerosos e conturbam a cidade em caso de interrupções de vias, desvios etc… Contudo, o alargamento de vias que implicam em desapropriações e grandes reformas urbanas requer recursos tão vultuosos, que nem podem ser cogitados. Portanto, grande parte das adequações de sistema viário tem se dado por meio de pequenos ajustes localizados e pelo incremento da semaforização. São soluções paliativas que têm prazo de validade até que se tenha soluções mais eficazes. Nas políticas de mobilidade, a tendência mundial tem sido valorizar outros modos de deslocamento em detrimento do transporte individual motorizado. “As cidades que se alinham a essa visão mais contemporânea investem em calçadas confortáveis e seguras, ciclovias e transporte coletivo de qualidade, estimulando o usuário a mudar hábitos de deslocamento”, comenta.

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