Técnica criada na USP São Carlos poderá tornar produção de plásticos mais sustentável
Pensando em uma solução para obter moléculas de carbono de
forma simples, sustentável e com menor risco ao meio ambiente, o professor
Antonio Burtoloso do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP criou uma
técnica inédita que permite a construção de moléculas de interesse industrial
por meio do aproveitamento do bagaço da cana-de-açúcar.
Empregando algumas reações químicas, o pesquisador chegou a um composto que
possui 10 átomos de carbono (C10) e que tem potencial para ser utilizado na
fabricação de plásticos. Isso foi possível depois que ele conseguiu juntar duas
moléculas da valerolactona – líquido incolor obtido a partir do bagaço da cana.
Segundo o especialista, o procedimento para a criação do C10 leva apenas um
dia.
Atualmente a busca por fontes renováveis de carbono tem sido intensificada por
pesquisadores de vários países, e a biomassa – todo material vindo de fonte
natural – surge como um dos alvos favoritos dos cientistas. O professor da USP
explica que, apesar do petróleo também ser proveniente de uma fonte natural, no
caso, o fóssil, ele não é renovável. Já a cana-de-açúcar, por exemplo, é
plantada em abundância anualmente e possui em seu bagaço um enorme potencial de
reaproveitamento.
“Não precisamos plantar cana-de-açúcar exclusivamente para colher o bagaço. A
ideia é aproveitar parte desse resíduo que acaba virando lixo como insumo para
a nossa técnica”, afirma o docente, que coordena o Grupo de Síntese Orgânica do
IQSC. Essa área de pesquisa envolve, resumidamente, a construção de moléculas
complexas e com maior valor agregado a partir de moléculas mais simples, que
podem ser compradas no mercado.
A possibilidade de desenvolver moléculas no laboratório contribui para a
preservação ambiental, pois, em alguns casos, a extração de determinada
substância da natureza gera grandes prejuízos aos recursos naturais, não
compensando sua retirada. Um exemplo é o taxol, molécula orgânica coletada das árvores
para o tratamento de câncer. A cada árvore derrubada, que leva pelo menos 100
anos para chegar a sua fase adulta, poderiam ser produzidos poucos comprimidos
de taxol, os quais não seriam suficientes para tratar sequer uma única pessoa.