A volta de ‘Fina Estampa’
Em tempos de confinamento
social provocado pela covid 19, quem viu a novela Amor de Mãe, ao longo da
semana, deve ter seguido aterrado o processo de transformação da personagem
Thelma, na novela de Manuela Dias. Ao descobrir que seu filho, na verdade, é o
filho procurado pela amiga Lurdes, Thelma virou um monstro, chegando ao
assassinato.
O capítulo de sábado fechou a primeira fase da
novela, que a Globo, provisoriamente, deixa de gravar. Adriana Esteves, que faz
o papel, é boa, mas, como a lendária Bette Davis, é melhor ainda como malvada.
Basta rever alguma cena dela na novela icônica, Avenida Brasil, no Vale a Pena
Ver de Novo, à tarde.
Para substituir Amor de Mãe, a Globo apresenta,
a partir desta segunda-feira (23), a versão compacta de Fina Estampa. Com a
novela de Aguinaldo Silva, voltam Pereirão, Teresa Cristina e… Crô! No ar
entre 22 de agosto de 2011 e 23 de março de 2012 – sim, o último capítulo foi
ao ar exatamente há oito anos -, Fina Estampa talvez possa ser vista como
premonitória de um tema que se impôs ao longo da década – o empoderamento (das
mulheres).
Os anos 2010 foram marcados por disputas de
narrativas. O autor já se destacara criando mulheres fortes – a Tieta de Betty
Faria, com base em Jorge Amado. Mas a Griselda de Lília Cabral possuía
características peculiares.
Conhecida como Pereirão, trabalha como faz-tudo
para garantir o sustento dos três filhos. Já a Teresa Cristina de Christiane
Torloni vai na contramão. A socialite que acredita ter a vida perfeita vai cair
do cavalo, como se diz, no choque inevitável que se estabelecerá com Pereirão.
Teresa Cristina vive a vida de aparência para a qual serão atraídos os filhos
de Pereirão, mas mesmo quem não viu a novela pode ficar tranquilo – Griselda
dará a volta por cima e, no desfecho… Ops! Vamos com calma, capítulo por
capítulo, desfrutando a sinuosa trama que Aguinaldo Silva criou.
Outro personagem seduziu o público. Seduziu
tanto que Crô, o mordomo gay de Marcelo Serrado, ganhou vida própria e saltou
da ficção de Aguinaldo Silva para os filmes realizados por Bruno Barreto e
Cininha de Paula, em 2013 e 18. O próprio Aguinaldo propôs, para Barreto, um
Crodoalvo Valério subitamente rico, ao herdar a fortuna de sua rainha do Nilo.
O problema é que Crô tem alma de servidor (a).
Adora ser tiranizado. Com graça, Barreto exercita seu amor pela comédia
italiana. Na versão de Cininha “Zorra Total” de Paula – Aguinaldo
colabora -, Crô em Família, um bando de aproveitadores invade a mansão para se
dar bem. A crítica caiu matando, mas é impossível não rir com as atribulações
de Crodoalvo tentando ensinar a etiqueta a um bando de sem-noções. A afirmação
LGBT também marcou a década. No limite, é um filme sobre afeto.