‘Ao longo desse ano, sonhei muito com o Boechat’, conta Eduardo Barão
Ontem (11) completou-se um ano da morte do jornalista
Ricardo Boechat. O apresentador estava em um helicóptero que caiu em cima de um
caminhão, próximo ao acesso à Rodovia Anhanguera, na chegada a São Paulo. O
piloto Ronaldo Quattrucci também morreu no acidente.
A reportagem conversou com Eduardo Barão, amigo e colega do jornalista e um dos
autores do livro “Eu Sou Ricardo Boechat”, também escrito por Pablo
Fernandez.
“Ao longo desse período de um ano, eu sonho muito com ele, muito mesmo. E
quase sempre, nos sonhos, ele aparece vivo. Como se tivesse sido uma pegadinha.
A grande notícia que eu queria que ele tivesse dado é que não aconteceu o que
aconteceu”, conta.
“Em vários momentos eu queria saber o que ele pensaria sobre aquele
assunto. Porque nem sempre ele ia como todo mundo ia. Às vezes ele via coisas
onde ninguém via”, reflete Barão, um ano após a morte do amigo.
Mesmo com a seriedade com a qual estava acostumado a apresentar o Jornal da
Band, na TV, e a ser âncora da rádio Band News, no rádio, Boechat também é
lembrado pelo bom humor de diversos momentos que foram ao ar.
Após um reportagem falando sobre calvície, por exemplo, reapareceu na tela com
a careca encoberta por uma chamativa peruca, e prosseguiu o encerramento do
telejornal normalmente.
Em outra ocasião, durante a repercussão da notícia de que Mia Farrow deu indícios
que Frank Sinatra poderia ser pai de um de seus filhos, e, procurado, o rapaz
informou que “qualquer um de olho azul nos Estados Unidos poderia ser
filho de Frank Sinatra”, Boechat ligou no ar para sua mãe, dona Mercedes.
“Mãe, me diz uma coisa: eu posso ser filho do Frank Sinatra?”,
questionou Boechat, aproveitando o fato de também ter olhos azuis. “Quem?
Aquele mafioso?!”, respondeu a argentina, sem saber que os ouvintes também
a escutavam. Desde então, sempre que ela precisava falar de assuntos mais
reservados, perguntava ao filho se ele “estava gravando”.
Filho de um diplomata, Boechat nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 13 de
julho de 1952, mas logo veio ao Brasil. Iniciou sua trajetória no extinto
Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, e ao longo da carreira, trabalhou em
jornais como o “Estado de S. Paulo”, “O Globo”, “O
Dia” e a revista “Istoé” – chegou até mesmo a trabalhar com o
colunista social Ibrahim Sued na década de 1970.
Seu rosto ficou conhecido nacionalmente na década de 1990, quando tinha uma
coluna no “Bom Dia Brasil”, telejornal da TV Globo.
Em junho de 2001, porém, foi demitido após a revista Veja divulgar uma conversa
entre Boechat e Paulo Marinho, assessor de Nelson Tanure, aliado da TIW, que à
época brigava pelo controle de duas empresas de telefonia célula
Anos depois, em 2004, foi contratado pelo Grupo Bandeirantes, onde começou como
comentarista nos telejornais da emissora. Em fevereiro de 2006, com a saída de
Carlos Nascimento para o SBT, Ricardo Boechat foi escolhido para substituí-lo
no “Jornal da Band”, ao lado de Joelmir Beting e Mariana Ferrão,
posto que ocupou até o fim da vida.
O jornalista ganhou três prêmios Esso, o mais importante da área O primeiro
deles foi em 1989, pela “Agência Estado”, em uma reportagem sobre
corrupção na Petrobras. Os demais foram em 1992, na categoria Informação
Política, e em 2001, na categoria Informação Econômica.
Morte
“Lembro perfeitamente. Confesso para você que, até hoje, é algo que me
toca muito. Ainda está muito claro na minha cabeça, não gosto de falar”,
conta Barão sobre o dia 11 de fevereiro de 2019
À época, ele apresentava o telejornal da Band News entre as 12h e as 14h, e deu
a notícia de uma queda de helicóptero. “Quando chega a primeira
informação, você não tem a menor ideia de quem está a bordo da aeronave”,
conta.
“Passam alguns segundos e alguém entra no ponto eletrônico: ‘Barão, é para
você sair do ar agora’. Eu estava no meio do jornal. Na minha cabeça veio algo
com meus filhos. Sei lá, meu filho caiu e quebrou a mão, bateu a cabeça, alguém
da escola ligou, algo assim”, relembra.
O jornalista recebeu, então, a notícia da morte de Boechat, na porta do
estúdio. Pouco depois, mesmo com o choro, foi à rádio Band News onde participou
da transmissão que anunciou a morte do apresentador na emissora em que
trabalhava, ao lado de Sheila Magalhães, diretora, que deu a notícia, e Carla
Bigato.