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Braff avalia o impacto da ditadura em sua vida e em outras obras literárias

10/03/2014 21h27 - Atualizado há 10 anos Publicado por: Redação
Braff avalia o impacto da ditadura em sua vida e em outras obras literárias

O professor, contista e romancista Menalton Braff natural de Taquara, Rio Grande do Sul saiu muito cedo para cumprir seu itinerário. Militante da vida e da política, em 64, se vê forçado a abandonar o curso de Economia na antiga URGS, desaparecendo por alguns anos. Ele também foi vítima da ditadura. O escritor por oito anos não pode usar seu nome nas publicações e nos conta um pouco de sua experiência e sentimentos. Confira a entrevista na íntegra:

 

“Me exilei pelo resto da vida. Saí clandestinamente de Porto Alegre, abandonando faculdade, amigos, parentes, minha biblioteca e vim parar em São Paulo. Por oito anos não pude usar meu nome (havia uma condenação na justiça militar), mas a condenação prescreveu e, com a abertura, voltei a ter uma vida quase normal. A vida clandestina pode ter ares de romantismo, mas é uma coisa terrível. A vida vai passando e continua-se no mesmo lugar. O clandestino é um morto vivo.

 

Isso o estimulou a produzir mais obras?

Antes de 64, apesar das inclinações, ainda não tinha publicado além de artigos em jornais e revistas. No período da clandestinidade só sobrevivi com relativa sanidade porque tive a oportunidade de ler e estudar. Não podia trabalhar, circular, não podia fazer quase nada. Mas ler e estudar eu podia. Por sorte tive um bom fornecimento de obras literárias e metaliterárias. Posso dizer que foi o período de minha formação. Foi o que me levou a cursar Letras mais tarde.

 

Como você avalia as principais obras literárias na época?

A arte em geral tem duas vias diferentes em períodos de regimes de força. Ou parte para um formalismo em que só conta o plano da expressão, tornando o plano do conteúdo em segundo plano, parte para um abstracionismo que já é uma forma de dizer não, isto é, uma reação do silêncio que pode ser acusador; ou parte para o ataque direto, a denúncia, com todos os riscos que isso implica.

Houve muita repressão. O Ferreira Gullar, por exemplo, teve de buscar o exílio. E lá ele escreveu o Poema Sujo. O Érico Veríssimo, outro exemplo, que era um dos escritores mais lidos do Brasil, teve de lutar muito para que seu Incidente em Antares (um hino à liberdade) não fosse censurado. Ele, além de Jorge Amado,  dois grandes escritores brasileiros da época, sofreram perseguição, ameaçaram abandonar o país, e encabeçaram as assinaturas de um manifesto contra a censura.   

 

Por que é importante relembrar esse fato até os dias de hoje?

Nós só conhecemos nosso presente e sem ele não podemos formular o futuro se temos consciência do passado. O homem é um ser histórico que só assume uma identidade dentro da história. Podem alguns dizer que o passado não existe mais, mas o presente é uma conseqüência do que já passou, e nada significa para nós se não soubermos de onde veio.

 

Ele também destaca que o início de sua carreira se deu no fim da ditadura. “Só depois de 30 anos passados consegui escrever um romance em que aspectos da minha experiência ficcionalizados apareceram. Na teia do sol é o romance em que um jovem se asila em uma chácara (como eu me asilei antes de vir para São Paulo), mas os fatos são invenção. O que busquei, no romance, foi a expressão mais ou menos fiel das emoções, dos sentimentos que então vivi”, finaliza.

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