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Carnaval da pandemia terá ‘lives’, reprises e até ‘apuração fake’

O novo coronavírus atravessou o samba das agremiações do Rio e de São Paulo

13/02/2021 11h28 - Atualizado há 3 anos Publicado por: Redação
Carnaval da pandemia terá ‘lives’, reprises e até ‘apuração fake’ Foto: Reprodução

Como dizem os sábios versos de Nelson Sargento: “Samba, agoniza mas não morre/ Alguém sempre te socorre/ Antes do suspiro derradeiro”. O novo coronavírus atravessou o samba das agremiações do Rio e de São Paulo, mas não impediu que o maior espetáculo da Terra brilhasse na tela da TV – e do computador.

Em um País que ostenta o ingrato posto de 2º lugar no mundo com mais mortes pela covid-19 (mais de 236 mil), as escolas de samba, seus foliões apaixonados e a TV Globo encontraram um jeito de manter viva a memória afetiva da festa que em nada combina com distanciamento social. Reprises de desfiles históricos, “lives” para escolher o samba que será cantado apenas em 2022 e até mesmo uma apuração “fake” em plena Quarta-feira de Cinzas estão no roteiro carnavalesco daqueles que querem matar a saudade da Marquês de Sapucaí e do Anhembi.

Nas madrugadas de sábado e domingo, a Globo vai reprisar desfiles que marcaram época nos sambódromos do Rio e São Paulo – os compactos deverão misturar em um mesmo dia apresentações que ocorreram nas duas cidades, intercalando apresentações mais recentes e outras mais antigas. O “Vale a Pena Ver de Novo” momesco privilegiou desfiles mais recentes de São Paulo – como o da Rosas de Ouro em 2005 (“Mar de rosas”, injustiçado em um 7º lugar) e o campeão da Vai-Vai em 2008 (“Acorda Brasil! A saída é ter esperança”, sobre o poder da educação).

No Rio, um novo público poderá revisitar o delírio futurista de Fernando Pinto na Mocidade Independente (“Ziriguidum 2001, um carnaval nas estrelas”, campeão em 1985) e o protesto de Joãosinho Trinta no clássico “Ratos e Urubus, larguem a minha fantasia”, desfile sobre o lixo físico, mental e espiritual da sociedade brasileira. O cortejo da Beija-Flor, vice-campeã, foi eternizado pela imagem do Cristo mendigo, que desfilou coberto, censurado, com a faixa “Mesmo proibido, olhai por nós”. “Um evento escandaloso, criativo e profundo”, resumiu na época o Jornal da Tarde.

O carnavalesco Milton Cunha e o ator Aílton Graça vão apresentar o programa que vai embalar as madrugadas dos telespectadores da Globo, que poderão escolher, de casa, o campeão em votação na internet. Em suas redes sociais, a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo (Liga-SP) também promete transmitir um total de 34 desfiles do Grupo Especial e do Grupo de Acesso em uma maratona festiva de 12 a 15 de fevereiro – o revival começa nesta sexta, às 23h15.

“Os marcos da história devem ser sempre lembrados. Um dos marcos de ocupação deste ano, que fez todo mundo ficar dentro de casa, é esse painel fabuloso, cultural, que a TV Globo apresenta no fim de semana, mostrando a força das comunidades de Rio e de São Paulo”, disse Milton Cunha ao Estadão. “É importante ver esses 30 desfiles com os olhos da vitrine que isso é para o povo É o momento de ver o compositor, os passistas, os sambistas de diferentes gerações. Esses programas especiais fazem o Brasil relembrar a força de seu povo a força cultural dessa grande festa.”

Time de jurados

No Rio, diante da inércia da Liesa (liga das escolas de samba), coube aos próprios foliões armarem a festa digital no carnaval do coronavírus. Antes de a Globo anunciar a reprise carnavalesca, o canal “Boi com Abóbora” já havia convocado internautas para acompanhar, nas noites de sexta e de sábado (a partir das 21h), a transmissão de desfiles que fizeram história – mas não faturaram o título.

Apenas um carnaval vai ser reprisado tanto na Globo quanto no “Boi”: o da Viradouro de 1998, “Orfeu – O negro do Carnaval”, marcado pelo refrão que levou a Sapucaí à loucura (“Hoje o amor está no ar/ Vai conquistar seu coração…”).

Os jornalistas João Gustavo Melo e Fábio Fabato e o carnavalesco André Rodrigues vão simular uma transmissão “ao vivo”, como se aqueles desfiles realmente fossem inéditos e estivessem pela primeira vez cruzando a Avenida. Os áudios foram remixados e até os fogos de artifício e os gritos de guerra dos intérpretes, que costumam sumir da transmissão da Globo, vão ser exibidos.

A brincadeira do “Boi com Abóbora” não termina aí: um time de 40 jurados foi escalado para dar notas, em uma apuração virtual que será transmitida em plena Quarta-feira de Cinzas – com direito à entrega de prêmio para a escola vencedora.

“Estamos chamando a galera para vir junto para que a gente, de alguma forma, promova esse encontro, nem que seja virtual. E a partir desse encontro, fortalecemos os nossos laços – e aguentamos a barra de esperar mais um ano”, diz o pesquisador de carnaval João Gustavo Melo.

Enquanto a maioria das escolas decidiu interromper os preparativos dos desfiles do ano que vem, a Estação Primeira de Mangueira preparou um “Viradão do Carnaval Verde e Rosa”, com “lives” nos dias 14, 15 e 16, sempre às 15h. A escola vai seguir com a disputa para definir qual samba vai ser cantado em 2022 sobre a homenagem a três ícones da Verde e Rosa: a poesia de Cartola, o canto de Jamelão e a dança de Delegado, lendário mestre-sala da agremiação. Num enredo de três baluartes homens, a Estação Primeira recebeu um recorde de sambas compostos por mulheres – das 51 músicas concorrentes, 11 são assinadas por compositoras.

“A Mangueira não desfila só no carnaval, a Mangueira desfila 365 dias por ano, porque tem todo o trabalho social que fundamenta a essência da escola. A Mangueira é muito mais do que uma escola de samba, é uma escola de vida”, afirma Moacyr Barreto, vice-presidente de projetos especiais da agremiação. “Estamos celebrando a vida, mostrando que escola de samba é um quilombo de resistência do dia a dia”, finaliza.

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