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Cineclube CDCC retoma as atividades esta semana

02/02/2015 19h42 - Atualizado há 9 anos Publicado por: Redação
Cineclube CDCC retoma as atividades esta semana

Todo sábado os amantes da sétima arte tem oportunidade de se reunir no Centro de Divulgação cientifica e Cultural, da Universidade de São Paulo, CDCC/USP. Com mais de 30 anos em atividade, é o cineclube mais antigo da cidade. Em dezembro interrompeu a programação para as festividades do fim do ano e férias dos universitários. Neste sábado, 7 de fevereiro as exibições serão retomadas com quatro títulos, dois europeus e dois nacionais. 

O CDCC fica no centro da cidade, o Cineclube do CDCC iniciou as atividades em 1982 e encontra-se instalado em um prédio histórico construído em 1902. Tudo isso já proporciona uma atmosfera para absorver as historias exibidas e participar dos debates propostos a partir da programação elaborada por uma comissão responsável.

O Cineclube do CDCC consegue proporcionar à população sancarlense, bem como ao público universitário, uma programação totalmente diferenciada dos circuitos comerciais de cinema. A curadoria pauta-se principalmente pela exibição de obras que sejam relevantes artisticamente e que possuam algum produto intelectual e discussão humanística.

Com todo essa preocupação, o Cineclube CDCC é mais que entretenimento,  na busca de que o público receba um conteúdo que resulte na reflexão e que desperte a atenção para a análise do ser humano em seus aspectos psicológicos, sociais, filosóficos e em todos aqueles que são possíveis de serem apresentados e discutidos pela sétima arte.

Confira as resenhas da programação do mês de fevereiro, que também estão disponíveis no site do CDCC, escritas por Lucas Marques Gasparino. As sessões acontecem sempre aos sábados às 20 horas gratuitamente.

07.02.15 – “Cachê”

França, 2005, Drama/Suspense, 117 minutos

Direção: Michael Haneke

“O passado te assombra” seria uma boa definição do filme, mas insuficiente e até estimularia uma visão de um filme clichê. “Cachê” é muito mais: é a desconstrução da ética e da moral impregnadas numa típica família da classe média. Georges, sua esposa e seu filho formam uma família sólida e estável, com um cerco de amigos intelectuais e boa fama. O medo e a preocupação os invadem, no entanto, quando começam a receber fitas de gravações que filmam a frente da casa deles. O telespectador, por inúmeras vezes, confunde-se na compreensão das imagens: não sabe se o que é exibido é o agora ou o passado. As gravações sugerem e orientam as ações das personagens, o que leva a uma descoberta de reminiscências antigas que vem à tona, para manifestar os inevitáveis efeitos que o passado tem no presente, sejam os externos ao indivíduo ou os internos, como a negação da culpa pessoal por uma conduta inconsequente e egocêntrica. Assim, a harmonia familiar mostra-se superficial, a desconfiança rege agora a interação entre Georges e a esposa e a mãe e o filho. A relação com os amigos torna-se mais íntima, a carreira de Georges depara-se com a mácula e a filosofia de criança inata, contrapondo aqui as ideias de John Locke e Thomas Hobbes – dois filósofos do século XVII que se antagonizavam na definição da construção da personalidade humana -, ganha destaque. Com uma fluidez intrínseca de filmes de cotidiano, Michael Haneke desenvolve a obra com maestria, mostrando a problemática das relações sociais e a fragilidade psicológica humana para resolver aquilo que sai de seu controle. E como se não bastasse, ainda engendra uma ligação direta entre o presente e um passado francês de preconceitos, conflitos ideológicos e de colonização.

 

14.02.15 – “Biutiful”

Espanha/México, 2010, Drama, 148 minutos

Direção: Alejandro Gonzáles Iñárritu

“Biutiful”, ambientado numa Barcelona dos subterrâneos, invisível aos olhos pouco atentos e superficiais dos turistas e desamparada de qualquer intervenção estatal que não seja a punição aos marginais, aborda com uma nitidez excepcional a enfermidade de uma minoria que sobrevive essencialmente para os laços familiares. Uxbal, pai de dois filhos, para garantir sua subsistência agencia a venda por africanos de mercadorias contrabandeadas, organiza trabalho escravo de imigrantes chineses na indústria têxtil e na construção civil e, no que envolve a sobrenaturalidade do filme, fornece o apaziguamento aos mortos, utilizando de seu dom inato de médium. Além da praxe luta pela existência num ambiente nocivo à vida, Uxbal vê-se mórbido, afetado por uma doença irreversível e irredutível: o câncer. Movido pela preocupação pessoal de abandonar seus filhos num mundo em que a seleção natural tem sua representação máxima, ele se envolve cada vez mais em suas atividades ilícitas, para garantir lucro; sua ex-mulher, uma prostituta bipolar incapaz de cuidar de si mesma, aparece-lhe como outro fardo, ao invés de uma solução. Situações imprevisíveis ocorrem com suas práticas imorais, o reconhecimento da culpa se instaura e o desejo por tornar-se uma pessoa sustentável de acordo com a suposta boa moral alcança seu ápice.

Assim, nesse intrincado conjunto de histórias paralelas ao qual o protagonista funciona mais como ponto de referencial, o diretor Iñárritu, já consagrado pelo seu mote de denúncia social, constrói um filme com elementos que todos nós conhecemos, como se fosse uma metalinguagem da vida, enaltecendo a esperança e permitindo, em alguns momentos, a reflexão sociológica e o reconhecimento de nosso próprio eu interno. “Biutiful” é único, não distorce nem se esconde por trás de atmosferas nebulosas de sensações; faz-se pela veridicidade com a realidade, pelo escracho de temas tabus e pelas atuações magníficas.

 

21.02.15 – “Som ao Redor”

Brasil, 2012, Drama, 131 minutos

Direção: Kleber Mendonça Filho

Em “Som ao Redor”, o entrevisto e o entreouvido tornam-se o protagonista do cotidiano de um bairro de classe média da cidade de Recife. As pessoas, temerosas às multidões e paranoicas com o estranho isolam-se uma das outras entre quatro paredes, cercadas de grades e concreto, para viverem seus paradigmas habitacionais: a insegurança está ao virar a esquina. A câmera, aqui armada para que o telespectador se veja como um velho conhecido, explora a reacionária democracia de condomínio, indiferente a menor manifestação do distanciamento social entre seus moradores. Uns complementam-se em si mesmo, tornando nítida a imagem que o diretor engendra: o ato instintivo e romântico de comprazer-se à empregada, ao porteiro, para não demonstrar o medo que se tem do mundo que o cerca. A máxima representação de vínculos faz-se em ligações ao passado e a incômodos sonoros do cachorro do vizinho. O filme, embora sem fragmentação direta, recorre à espontaneidade das ações divergentes: a mais objetiva e lógica atitude confunde-se com o mistério das sensações impregnadas em seus personagens. João, aquele que não se abala, filho de Francisco (o proprietário de diversos imóveis da região), põe-se em um romance desconexo com Sofia, é o antagonista da visão autoritária do condomínio, é o que desconfia da milícia (representada aqui por Clodoaldo) que aparece ao bairro como uma solução à insegurança que afeta aos moradores. A coisa toda flui como o cotidiano flui, com um toque sonoro para adicionar mistério naquilo em que não é de praxe: um mergulho noturno no mar, um pesadelo de manifestação de classe social por uma suposta inocente criança. Mas nenhum desses personagens é de fato o sujeito de Som ao Redor, e sim a inconsciência que assombra, que traz à tona as inquietações que rejeitamos cotidianamente, nunca encaradas e com um único por quê: a deficiência de empatia. Diz muito não só sobre a classe e a cidade retratada, mas sobre a realidade verdadeiramente incrustada em todos nós: a indiferença.

 

28.02.15 – “Na Estrada”

Brasil/Canadá, 2012, Drama, 140 minutos

Direção: Walter Salles

Adaptação de um clássico da literatura norte-americana, como uma [quase] autobiografia de Jack Kerouac – escritor do movimento Beat (da década de 1950), que enaltecia a vida boêmia, nômade e de comunidade, “Na Estrada” (ou “Pé na Estrada”, o título do livro) é a ilustração cinemática que segue à risca e sem rodeios os acontecimentos em que o autor se vê envolvido quando se torna íntimo de seu amigo e herói idealizado Neal Cassady (retratado no filme com o pseudônimo Dean Moriaty), personagem vagabundo e alucinado que é guiado pela controversa moral de deixar-se levar pelos instintos. Toda a relação de ambos e as de quem os cercam, com ênfase a Marylou, a garota frágil e passional, e Allen Ginsberg/Carlo Marx, inebriado pela sensualidade de Neal, são retratadas com uma euforia contagiante, imersa de êxtase da liberdade de experimentações musicais (com o jazz), literárias (naturalista, espontânea), sexuais e químicas. E é com esse ideal do nada, do simples existir e sentir a vida em sua máxima essência, que eles caem na estrada.

 

SERVIÇO

Cineclube CDCC

07.02.15 – “Cachê”

14.02.15 – “Biutiful”

21.02.15 – “Som ao Redor”

28.02.15 – “Na Estrada”

Sempre aos Sábados às 20h

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