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Drama austríaco ‘Quando a vida acontece’ tem debate no Ciclo de Cinema e Psicanálise

Edição aconteceu na última terça (13), no canal do MIS no YouTube, parte da programação do #MISemCasa

15/04/2021 11h35 - Atualizado há 3 anos Publicado por: Redação
Drama austríaco ‘Quando a vida acontece’ tem debate no Ciclo de Cinema e Psicanálise Foto: Divulgação / Governo de São Paulo

A cada quinze dias, o Ciclo de Cinema e Psicanálise (programa realizado pelo MIS, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, em parceria com a Folha de S.Paulo e a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo – SBPSP) traz debate sobre um filme mediado por Luciana Saddi, coordenadora de Cinema e Psicanálise da Diretoria de Cultura da SBPSP. Em seguida, o público pode participar com perguntas, integrando novas perspectivas a respeito da obra.

A edição desta última terça-feira (13) abordou o longa ‘Quando a vida acontece’ (dir. Ulrike Kofler, Austria, 2020, 93min., 16 anos, disponível na Netflix). O drama austríaco, que retrata a relação de um casal que enfrenta problemas com fertilidade e todos os desdobramentos desse conflito, foi debatido por Gina Khafif Levinzon (SBPSP) e Cláudia Collucci (Folha de S.Paulo), com mediação de Luciana Saddi. A conversa aconteceu às 20h, ao vivo, no canal do MIS no YouTube.

Sobre o filme – Quando a vida acontece

“Quando a vida acontece’, dirigido pela estreante Ulrike Kofler, conta a história do casal Alice (Lavinia Wilson) e Niklas (Elyas M’Barek), que enfrenta um longo e frustrado tratamento para infertilidade. Desiludidos, decidem por passar férias na Sardenha com a esperança de se recuperarem. Estão desnorteados e cansados. Há tristeza no olhar de ambos. Pretendem recobrar a vontade de viver e a comunicação perdida entre as tentativas de engravidar.

Precisam descobrir o destino da casa que construíam para os filhos que não terão. A falta de sentido na vida – sinal sempre presente após perdas e traumas – e a dor dos sonhos desfeitos se expressam nos mais variados e frugais momentos cotidianos da dupla. Assim como o medo do vazio e o medo da intimidade. No hotel, conhecem uma família, hospedada no apartamento vizinho, que à primeira vista parece perfeita, daquelas de dar inveja a qualquer um. Aos poucos, na medida em que travam maior conhecimento e aprofundam relações, emergem dificuldades, conflitos e dramas, e o clima de “a grama do vizinho é mais verde” se desfaz. Ao mesmo tempo e de maneira inversa à desilusão com os vizinhos, o casal cicatriza as feridas.

As formas de enfrentar perdas, depressão e luto intrigaram Freud e os analistas que o sucederam. Não seria impossível, antes pelo contrário, percorrer toda a história da psicanálise por meio do verbete perdas. Autores, Escolas e cada psicopatologia articula a palavra e seu sentido de maneira própria e singular. Na narrativa do filme, ainda que centrada em perda pontual, observa-se que a impossibilidade de ter filhos gera um tipo de reação à perda que carrega e atrai para si muitas outras, anteriores e posteriores ao evento.

Perdas materiais e simbólicas se somam – ambas ferem. Alice está despedaçada, morta por dentro, identificada com os filhos que não consegue gerar. Niklas procura desesperadamente alguma potência frente à própria dor e contra incapacidade de fazer Alice menos infeliz. A morte da potência, a morte da fertilidade, a morte dos sonhos de cada um se avolumam e se condensam na hipótese de separação do casal.

É necessário um longo trabalho de elaboração do luto formado por inúmeros desligamentos para que surja desejo e espaço capaz de conter novos investimentos. O processo é doloroso. O luto surge como um tipo de loucura que arrefece à medida do enfrentamento da dor da perda. Mas ainda assim é loucura. Nesse processo, o sofrimento é sentido e, a falta, considerada. Há momentos de calmaria revestida de pesar que podem ser revertidos, a qualquer instante, para nova etapa de dilaceramento.

Já na melancolia, o processo é diverso, se instala quando a perda real ou simbólica se funde à culpa inconsciente. Na melancolia, dor e pesar se silenciam, e retornam em forma de ataques contra o Eu.

“O maior mérito desse drama austríaco é poder, por meio de imagens singelas, sóbrias e lugares comuns até, desenrolar a novela do luto, o romance do padecimento e o conto de agonia do casal. Sutilmente o espectador é convidado a compartilhar o percurso emocional dos personagens. Testemunha-se a falência financeira e emocional. Conversas abortadas, sexo sem graça, palavras que fogem da boca. Turbilhão e tensão. É dessa maneira que a vida acontece”, comenta Luciana Saddi.

Debatedores:

Gina Khafif Levinzon é psicanalista, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), Doutora em Psicologia Clínica pela USP, professora do Curso de Especialização em Psicoterapia Psicanalítica CEPSI-UNIP, Coordenadora do Grupo de Estudos sobre Adoção e Parentalidades da SBPSP. Autora dos livros: A criança adotiva na psicoterapia psicanalítica (ed. Escuta), Adoção (ed. Artesã); tornando-se pais: a adoção em todos os seus passos (ed. Blucher); Adoção – desafios da contemporaneidade (org.) (ed. Blucher). Autora de vários artigos publicados.

Cláudia Collucci, Repórter na Folha de São Paulo desde 1990. Já trabalhou nos cadernos regionais, em Cotidiano e na editoria de Treinamento. É mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós-graduada em gestão de saúde pela FGV. Escreve sobre saúde. É autora dos livros Quero ser mãe e Por que a gravidez não vem?

Mediação: Luciana Saddi – Coordenadora de Cinema e Psicanálise da Diretoria de Cultura e Comunidade da SBPSP.

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