Morre o sambista Riachão, aos 98 anos, em Salvador
Baiano é autor de clássicos como ‘Cada macaco no seu galho’ e ‘Vá morar com o diabo’
O cantor e compositor Riachão morreu ontem (30), aos 98
anos, em Salvador. Nascido na capital baiana, em 1921, ele era um dos mais
importantes sambistas do país. Entre
suas composições famosas está “Cada macaco no seu galho”, lançada em 1972 nas
vozes de Caetano Veloso e Gilberto Gil em gravação editada em compacto, e
“Vá morar com o diabo”, popularizado na voz de Cássia Eller para o
álbum “Acústico MTV”. O sambista se preparava para lançar um álbum
com músicas inéditas e clássicos ainda em 2020.
Depois de Caymmi, Riachão foi o primeiro compositor baiano a gravar no Rio,
ainda na década de 1950, por meio de Jackson do Pandeiro. Seus sambas sempre
foram contundentes e divertidos: ‘Essa turma que trabalha muito cedo/ vem a
fome que faz medo/ e faz a barriga roncar/ vai no caixa compra tique/ pega
tique/ leva o tique/ dá o tique para poder almoçar’, cantou na faixa “Eu
também quero” em seu disco de 1973.
No ano anterior, após sua “Cada macaco no seu galho” ter sido gravada
por Caetano Veloso e Gilberto Gil, que voltavam do exílio, teve a canção
‘Barriga vazia’ censurada pela ditadura: ‘Eu, de fome, vou morrer primeiro /
você, de barriga, também vai morrer um dia’.
Após um hiato de quase 20 anos, Riachão gravaria um CD somente em 2001, quando
dividiu faixas com nomes como Caetano Veloso e Dona Ivone Lara. Todos os seus
maiores sucessos foram registrados. No mesmo ano, o sambista baiano ganhou mais
visibilidade quando Cássia Eller gravou, em seu “Acústico MTV”, a
canção “Vá morar com o diabo”: “Ai, meu Deus, ai, meu Deus o que
é que há/ Ai, meu Deus, ai, meu Deus o que é que há/ A nega lá em casa não quer
trabalhar/ Se a panela tá suja, ela não quer lavar/ Quer comer engordurado, não
quer cozinhar/”.
Ainda em 2001, Riachão foi objeto do documentário “Samba Riachão”,
dirigido pelo cineasta e músico baiano Jorge Alfredo.
Em entrevista ao GLOBO, em 2017, o sambista usou da lógica incontestável e
peculiar presente em muitas de suas composições ao comentar as diferenças entre
o samba baiano e o das outras partes do Brasil, especialmente o Rio:
— O pai do samba foi a Bahia, porque foi na Bahia que nasceu o samba, que foi
na Bahia que nasceu o Brasil, e o samba veio do Brasil, então qualquer parte
deste mundo que cantar samba, o pai dele é a Bahia — afirmou Riachão.