Morto no final de semana, compositor polonês Penderecki buscou unir música e política
O compositor polonês
Krzysztof Penderecki morreu na manhã deste último sábado (28) aos 86 anos,
“após uma longa doença”, segundo sua família. Nome-chave da
composição erudita, ele também tornou-se célebre pela presença de sua música em
trilhas de filmes como O Iluminado, de Stanley Kubrick, e O Exorcista, de
William Friedkin.
Penderecki manteve relação próxima com o Brasil
desde os anos 1980, comandando grupos como a Orquestra Petrobrás Sinfônica, a
Filarmônica de Minas Gerais e a Osesp, que regeu em 2017, em sua última
passagem por São Paulo.
Sua obra costuma ser separada em momentos
distintos. Os anos 1950 são o momento da criação de vanguarda, em obras como
Polimorphia. Na década de 1960, a primeira pausa e reflexão sobre esse caminho,
com uma abertura para a música religiosa: é quando escreve a Paixão Segundo São
João, que cai como uma bomba na Polônia comunista. Vêm os anos 1970 e, com
eles, torna-se mais marcante o retorno à música do passado, repensada por meio
de um filtro pessoal. Filtro que, nos anos 1980, passa a incluir ainda mais o
olhar sobre a política de seu tempo, em peças como o Réquiem Polonês, que nasce
a partir de uma encomenda do Solidariedade, sindicato de trabalhadores criado
por Lech Walesa que negava o controle do Partido Comunista. Dali em diante, o
compositor havia encontrado seu caminho, somando aos barrocos e clássicos os
românticos em seu olhar com relação ao passado.
Penderecki não negava essa trajetória. Mas
ressaltava o homem por trás dela. A ligação inicial com a vanguarda era uma
forma de questionar as determinações do realismo soviético. O afastamento da
vanguarda, por sua vez, uma necessidade individual de “não repetir a mim
mesmo”. E assim por diante.
“Nas diferentes vezes em que mudei de
direção, não foi para trocar de dogmas”, disse ao Estado em 2006.
“Foi para encontrar o meu estilo, a minha música. Aquela em que me sinto
honesto escrevendo. É a representação do que a minha sensibilidade sente ser
necessário dizer ao público. E a mim mesmo.”