Nicolas Cage é ex-presidiário em ‘Cães Selvagens’, de Paul Schrader
Edward Bunker é um ex-presidiário que virou escritor e ator. Quentin Tarantino o escalou para ser o Mr. Blue, em “Cães de Aluguel”, no começo dos anos de 1990. Pouco tempo depois desse renascimento, com o nome projetado pela fama do filme, o escritor publicou “Cão Come Cão”, um romance que homenageia o cinema de Tarantino e serve de base para “Cães Selvagens”, que estreia nesta quinta-feira (6) no Brasil.
Dirigido pelo roteirista e diretor Paul Shrader, cujos créditos mais famosos ainda continuam sendo os roteiros de “Táxi Driver” e “Touro Indomável”, ambos dirigidos por Martin Scorsese, “Cães Selvagens” é um filme, por assim dizer, “tarantinesco”.
O problema é que essa palavra não é bem um elogio. “Cães Selvagens” é como um catálogo dos tiques que assombram a obra do diretor de “Pulp Fiction”, mas que, estranhamente, nas mãos dele funcionam. Aqueles que ousam fazer pastiche — e, sejamos justos, Schrader não é o único, e talvez seja um dos mais talentosos a tentar — raramente (na verdade, praticamente, nunca) acertam.
Os protagonistas são três ex-presidiários contratados por um mafioso para sequestrar o bebê de um rival. Dada a origem da trama, espera-se, é claro, muito sangue, cabeças explodindo (sim, há) e violência gratuita.
Estilisticamente, o diretor abarrota o filme com mudanças de tons, de cores, de velocidade das imagens. Uma cena é em preto-e-branco, embora não faça sentido ou tenha necessidade desse recurso. Logo depois, outra é iluminada por um neon cafona que já era démodé nos anos de 1980, seguida de algo que parece saído de “Assassinos por Natureza”, e que deveria ter permanecido mesmo lá nos longínquos anos de 1990.
Troy (Nicolas Cage) é o mais centrado do trio. Diesel (Christopher Matthew Cook) é nervoso e imponente por conta de seu tamanho, enquanto Mad Dog (Willem Dafoe) faz justiça ao nome de cachorro louco logo na primeira cena, que não faria a menor falta se caísse fora do filme. E, logo de cara também, Schrader parece querer nos levar para dentro da cabeça desse personagem. Essa é uma viagem sem volta da qual o filme nunca se recupera.
O trio, que odeia a cadeia, é claro, também tem medo da vida do lado de fora. A ideia é, basicamente, conseguir um dinheiro para se aposentar e mudar para o Havaí.