Perturbador e perigoso, Parasita é o melhor filme que você vai ver em 2019
Parasita
é
um filme perigoso. O sul coreano Bong Joon-Ho criou uma sátira
social que não se contenta em ser colocada em uma caixa. É um
caleidoscópio de tom e de intenção, com o diretor conduzindo a
narrativa com precisão operística. É ousado ao passear por
diversos gêneros sem nunca se ater a nenhum. É engraçado de
maneira nervosa, romântico em sua constante tensão, aterrorizante
em seu realismo brutal.
O ponto de partida relativamente
simples desdobra-se sem gordura e com velocidade: como a família
Kim, aninhada no estrato mais baixo da sociedade coreana, consegue
inserir-se, como um vírus, no coração da família Park, que, no
outro extremo, representa a elite endinheirada do país.
A
primeira metade de Parasita
sugere
uma comédia nervosa em que os pobres, uma vez insinuados na vida dos
ricos, percebem que talvez eles pertençam àquele lugar. A sensação
é ampliada quando os Park viajam para o campo em um fim de semana,
deixando os impostores experimentando a boa vida, em uma casa bem
acima do nível da rua, cercada de árvores, idilicamente deslocada
da realidade das ruas de Seul.
Bong em nenhum momento busca a
sutileza. A chuva torrencial que transborda o esgoto no cubículo
subterrâneo que os Kim chamam de lar não é nada metafórica: é a
perda real do senso de humanidade, é perceber que não há
malandragem ou esquema quando o mundo mostra sua faceta mais crua. O
cineasta também é direto ao mostrar que nada disso sequer registra
para quem eleva-se bem acima do nível da água, montados em uma
torre de dinheiro, de futilidade e de ignorância.
Ainda assim,
em nenhum momento Parasita
coloca
os ricos como os vilões – não se furta a apontar que eles
definitivamente são parte do problema. Se os “parasitas”
parecem ser a princípio a família de golpistas que se entranham no
cerne de um núcleo familiar da alta classe, o conceito parece ser
fluido, mudando de perspectiva ao longo da narrativa. Bong vai além
do simplismo de “ricos ignorantes, pobres malandros”: seu
filme é sobre perspectivas, sobre auto imagem, sobre camadas sociais
quase imperceptíveis que se mostram abissais.
SERVIÇO
PARASITA
Em
exibição no Cine São Carlos: quinta, sexta, segunda e terça-feira
às 16h e sábado, domingo e quarta-feira às 19h.