Após Brumadinho, Vale fecha 2019 com prejuízo de US$ 1,6 bi
A
Vale divulgou nesta última quinta-feira (20) o relatório com seus resultados
financeiros do quarto trimestre de 2019. Com esses dados, foram consolidados os
resultados do ano passado, no qual a mineradora ficou marcada pela tragédia de
Brumadinho (MG). O episódio contribuiu diretamente para que fosse registrado um
prejuízo de US$ 1,68 bilhão, aproximadamente R$ 7,4 bilhões. Trata-se de uma
queda de 124,5% na comparação com 2018, quando a mineradora teve lucro líquido
de US$ 6,86 bilhões.
O desempenho do quarto trimestre reverteu o saldo positivo no ano. A mineradora
havia amargado prejuízo no primeiro e no segundo trimestre, mas compensou as
perdas no terceiro trimestre ao registrar um lucro de US$ 1,65 bilhão. No
entanto, voltou a ter um prejuízo. No quarto trimestre, o resultado negativo
foi de US$ 1,56 bilhão.
A Vale reconhece no relatório que o prejuízo de 2019 decorre das provisões e despesas
relativas à ruptura da barragem em Brumadinho. Desde a tragédia, ocorrida em 25
de janeiro de 2019 com o vazamento de mais de 10 milhões de metros cúbicos de
rejeitos de mineração, 259 corpos foram resgatados e 11 pessoas ainda estão
desparecidas. A maioria das vítimas eram trabalhadores da própria Vale ou de
empresas terceirizadas contratadas por ela.
A mineradora aponta ainda dois fatores que contribuíram para o desempenho. Um
deles é o “registro de impairment e contratos onerosos sem efeito caixa,
principalmente relacionados aos segmentos de Metais Básicos e Carvão (US$ 4,202
bilhões)”. O outro são provisões associadas à Fundação Renova e à
descaracterização da barragem de Germano (US$ 758 milhões).
Fundação
Renova
A Fundação Renova tem relação com outra
tragédia, ocorrida em novembro de 2015, quando se rompeu Mariana (MG) uma
barragem da mineradora Samarco, que tem a Vale como uma de suas controladoras,
juntamente com a anglo-australiana BHP Billiton. No episódio, 19 pessoas
morreram e dezenas de cidades foram impactadas na bacia do Rio Doce. Para
reparar todos os danos, um acordo com o poder público definiu as bases para a
criação da Fundação Renova, entidade que tem as três mineradoras como
mantenedoras.
A última vez que a Vale fechou um ano com
prejuízo foi em 2015. As perdas foram de R$ 44,2 bilhões. No entanto, no
balanço referente a 2015, a Vale afirmou que o rompimento da barragem em
novembro daquele ano não teve efeito no fluxo de caixa do exercício que se
encerrou em 31 de dezembro. A mineradora posteriormente reconheceu impactos na
produção de 2016. Ainda assim, no ano posterior à tragédia de Mariana, houve
lucro de R$ 13,3 bilhões.
Outro dado que consta no relatório é o valor de
Ebitda, lucro operacional subtraído dos juros, impostos, depreciação e
amortização. A Vale informou que, em 2019, totalizou US$ 18 bilhões de Ebitda
pró-forma, que exclui também as provisões e despesas correntes relacionadas à
tragédia de Brumadinho. O valor é US$ 1,4 bilhão menor do que em 2018. Somente
no quarto trimestre, o Ebitda pró-forma totalizou US$ 4,677 bilhões, ficando
US$ 151 milhões abaixo do terceiro trimestre.
Acionistas
O relatório registra a decisão do Conselho de
Administração de aprovar a distribuição aos acionistas de R$ 7,2 bilhões, a
título de juros sob capital própria (JCP). A data do repasse, porém, não está
definida. Após a tragédia de Brumadinho, foi suspensa Política de Remuneração
ao Acionista. Dessa forma, somente quando o Conselho de Administração reverter
essa decisão é que o valor, equivalente a R$ 1,41 por ação, poderá ser
distribuído.
Ainda assim, o anúncio do repasse de JCP
realizado em dezembro do ano passado, gerou reações entre os atingidos de
Brumadinho. Eles realizaram manifestação e lembraram que o montante era
superior ao que a Vale havia investido até então na reparação dos danos.
Em sua primeira página, o relatório financeiro do
quarto trimestre de 2019 traz uma mensagem sobre a tragédia escrita pelo
presidente da mineradora, Eduardo Bartolomeu. “A Vale permanece firme em
seus propósitos: reparar integralmente Brumadinho e garantir a segurança de
nossas pessoas e ativos. Temos feito progressos significativos, com um efetivo
programa de reparação, com melhorias relevantes em nossa governança e
operações, e com um plano de descaracterização para nossas barragens a montante
sob implementação acelerada”. A descaracterização de barragens similares
as de Mariana e Brumadinho foi determinada por lei após a tragédia de 2019.
O relatório financeiro lista ainda ações de
compensação econômica que já foram realizadas. Segundo a Vale, foram
indenizadas as famílias de 244 dos 250 trabalhadores mortos na tragédia. Foram 611
acordos, com 1.570 beneficiários, totalizando R$ 1,4 bilhão. Também foram
firmados acordos de indenização individual com mais 4.451 vítimas no valor de
R$ 679 milhões. Além disso, a mineradora afirma ter desembolsado R$ 1,2 bilhão
com a assistência emergencial a 106 mil pessoas que residem em Brumadinho ou em
municípios ao longo do Rio Paraopeba, para onde os rejeitos escoaram.