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Baixo crescimento e inflação vieram para ficar?

João Francisco Sverzut Baroni *

20/09/2021 08h12 - Atualizado há 3 anos Publicado por: Redação
Baixo crescimento e inflação vieram para ficar? Foto: Arquivo Pessoal

Há muito mais perspectivas de risco para segurar o crescimento econômico do que possíveis boas notícias vindo por aí

Depois de um 2020 com queda acentuada do PIB esperávamos um crescimento natural ao menos para compensar perdas relativas à pandemia, mas nossas expectativas se frustram semana a semana. No segundo trimestre do ano tivemos o PIB caindo 0,1%, o que nos coloca na 37a posição entre os 48 países que já divulgaram resultados. A desaceleração do consumo de bens e serviços preocupa pois percebemos um retrocesso no principal setor empregador. Resultado disso são os 14 milhões de brasileiros em busca de emprego. Mesmo as expectativas de 2022 derretem semana a semana na visão dos principais analistas e bancos, que prevêem um pífio crescimento em torno de 1% no ano que vem. Faz incríveis 11 anos que tivemos crescimento do PIB acima de 5% (mais uma década perdida).

Por outro lado, a inflação já está na boca do povo: o poder de compra está muito aquém do que há alguns meses, e o IPCA deve, pela primeira vez desde 2015 (primeiro ano do segundo mandato Dilma), ultrapassar a barreira dos dois dígitos. Esse cenário inflacionário é outro freio na retomada econômica: com a compressão de renda, não há aumento de consumo – no máximo uma troca entre setores. Ou seja, ao percebermos aumento de um setor econômico (serviços) isso se dá em detrimento de outro (bens).

Temos um dos piores desempenhos mundiais na economia por conta de uma moeda muito depreciada, de uma iminente crise energética sem nenhum plano de ação ou mitigação e de uma inflação que sofre tanto pelo câmbio como pelo aumento brutal da liquidez e oferta de recursos no nível global. Também não temos conseguido aproveitar a janela de oportunidade desse aumento de liquidez, perdendo a chance de atrair investimento estrangeiro. Nossa política externa claudicante confirma que viramos o patinho feio da vez.

Expectativas são fundamentais para os agentes econômicos, e a nossa perspectiva para o próximo ano nos levam a crer que o que está ruim vai piorar. Com o aumento das tensões políticas causadas pelo presidente, é de se esperar que a equipe econômica atual deverá pisar no acelerador do gasto público visando um ano eleitoral à frente. Esse liberalismo às avessas com a abertura dos cofres públicos inclui o aumento de benefícios para compra de apoio do centrão e dos militares em orçamentos secretos, que contribuem tanto para a inflação como para a insegurança fiscal, piorando as expectativas e aumentando o risco Brasil. O índice CDS, um dos principais indicadores históricos do risco país, saiu de 99 pontos em janeiro de 2020 para 176 pontos em setembro/2021 e a tensão institucional aumenta a passos largos.

Como podemos vislumbrar algum tipo de melhora? Como sair do atoleiro?

Há necessidade de recomposição de programas sociais e reformulação de políticas públicas. Ao invés de estourar o teto de gastos (implementado por Temer) com artifícios de contabilidade criativa (repetindo o que vivemos nos anos Dilma), o executivo poderia voltar a ter controle sobre o orçamento (atualmente nas mãos do congresso), cortando os R$35 bilhões generosamente alocados por Artur Lira em emendas parlamentares a deputados do centrão em orçamentos secretos. Essa aberração sangra as contas públicas e garante o apoio do executivo no congresso apenas para manter-se no poder, já que não há agenda propositiva com reformas que estão empacadas.

Redução de benefícios tributários específicos, que beneficiam determinados setores em detrimento de outros, e que tornam a nossa estrutura fiscal cada vez mais complexa.

Entendimento da classe política para a construção de um plano de país, independente de atores políticos. Nosso cenário de polarização inviabiliza qualquer tipo de plano ao país e vemos que os políticos mais populares, infelizmente têm sido os que querem ganhar no grito.

No cenário atual de polarização o espaço para o debate foi eliminado. Vivemos a guerra entre narrativas e uma política com base em propaganda, numa eterna campanha eleitoral onde vale apenas o que é dito (berrado ou xingado), e não o que é realmente feito. E quem está pagando essa conta somos nós.


*João Francisco Sverzut Baroni – Chefe Executivo de Ofício (CEO) do grupo Engemasa.

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