Carteiras recomendadas têm ganho abaixo do Ibovespa em 12 meses
No acumulado de 12 meses, a
média de rentabilidade das carteiras recomendadas semanalmente por 11 das
principais corretoras de investimento do País perdeu para o Ibovespa, cesta com
as principais ações negociadas pela Bolsa. Ficou atrás também do Ifix, o índice
de fundos de investimento com ativos imobiliários.
Na prática, isso significa que ter comprado um
ETF (sigla que designa fundos negociados em bolsa) ancorado ao Ibovespa poderia
ter sido mais rentável para o investidor, já que este tipo de opção reproduz um
índice de mercado.
As carteiras recomendadas são um conjunto de
cinco ações indicadas pelas instituições, conhecidas como Top Picks. Elas
renderam em média 17,64% nos últimos 12 meses, enquanto o Ibovespa e o Ifix se
valorizaram 21,70% e 28,49%, respectivamente. Os dados são de levantamento
feito pelo buscador de investimentos Yubb para o jornal O Estado de S. Paulo.
O custo de reproduzir essas carteiras pode pesar
para o investidor. Quem fez todas as mudanças junto com os analistas, teve de
desembolsar até R$ 2.714,60 com taxas de corretagem. Se considerada uma média
entre as corretoras, o custo de movimentação das carteiras no período ficou em
R$1.468,42. Enquanto isso, a taxa de administração de um ETF do Ibovespa fica
em torno de 0,3% ao ano.
Nas contas do Yubb, a taxa de um ETF só teria
custado o mesmo que o preço médio de movimentação das Top Picks se o cliente
tivesse investido mais de R$ 489.473,33. Ainda assim, seria preciso bater os
quase 4 pontos porcentuais de diferença no rendimento do ETF em relação à média
dessas carteiras.
Para o diretor executivo do Yubb, Bernardo
Pascowitch, o investidor ainda deve colocar na balança fatores que não são tão
facilmente mensuráveis. Ele explica que a rentabilidade dos Top Picks é
contabilizada a partir do momento em que as instituições publicam essas
carteiras. “Essas recomendações, porém, não são um produto pronto e
disponível nas corretoras. Os investimentos precisam ser feitos
individualmente. Significa que, talvez, você não consiga comprar a ação no
momento em que ela é indicada”, diz.
Já o professor de finanças Keyler Rocha, da
FEA-USP, afirma que as carteiras recomendadas trazem análise e pesquisas. Cabe
ao investidor observá-las e entender se aquilo faz sentido na sua estratégia.
Além disso, ele diz que o fato de o Ibovespa ter se valorizado mais que a média
das carteiras não indica que os ETFs são a solução do problema no futuro.
“O Ibovespa mostra a valorização das ações
das empresas selecionadas segundo a metodologia da Bolsa. Ele indica que estas
ações foram bem. Logo, é possível que em outro momento determinada carteira
performe melhor do que aquela seleção de ações”, diz.
O bancário Giovanni Sorc, 22, decidiu desde
agosto pagar para receber as recomendações de uma empresa especializada. Sua
preferência é pelas indicações de longo prazo. “Minha meta nos
investimentos é atingir a independência financeira, não precisar mais
trabalhar, depois de uma certa idade. Logo, tenho um horizonte de prazos mais
longos”, diz. No seu caso, diz que desde agosto teve rentabilidade entre
12% e 15%.
Nas Top Picks analisadas, algumas renderam muito acima da
média, cerca de 80% no acumulado de 12 meses, enquanto outras puxaram a média
para baixo. Neste caso, o investidor poderia ter acompanhado a carteira mais
rentável, reproduzindo sua estrutura por meio de uma corretora que não cobrasse
taxa de corretagem para compra e venda de ações.
Renda fixa – Das carteiras analisadas nos últimos 12 meses, 88,4%
superaram a média de rendimentos dos melhores produtos de renda fixa do
mercado. No entanto, o professor da FGV Fábio Gallo, colunista do Estado, lembra que,
historicamente, essa diferença ainda não é palpável. “Desde 1995 até 2018,
R$ 100 aplicados em um investimento que rendesse 100% do CDI teriam se tornado
R$ 4 104,7, enquanto no Ibovespa o montante teria chegado apenas a R$
1.252,58”, diz.
A diferença agora, pondera ele, é o efeito da
queda acelerada dos juros. Para conseguir ultrapassar a inflação, é necessário
optar por investimentos de maior risco – o que tem empurrado mais pessoas para
o mercado de ações.
O levantamento do Yubb mostrou ainda que a média
das Letras de Câmbio (títulos oferecidos por financeiras) e RDBs (Recibo de
Depósito Bancário) mais rentáveis do mercado atingiu ganho de 9,31%, mais de 8
pontos porcentuais abaixo da média das Top Picks. Esses ativos tem a cobertura
do Fundo Garantidor de Crédito, que garante que o cliente não perderá dinheiro
até o limite de R$ 250 mil por emissor.
Ainda assim, o buscador encontrou oportunidades
em renda fixa que superaram a média de rentabilidade das carteiras. “Dá
quase o mesmo trabalho de procurar ações e é necessário estar próximo ao
mercado para enxergar essas oportunidades. Mas elas existem”, diz Gallo.