Economista aposta em novo “choque keynesiano” para salvar economia
Para Elton Casagrande, ao promover pagamentos, o setor governamental possibilitará que a iniciativa privada se levante da crise mesmo sem ter faturamento
O aumento de gastos do Estado brasileiro, através da União,
Estados e Municípios, num novo Choque Keynesiano, é a única possiblidade de o
Brasil recuperar a atividade econômica depois da crise do novo coronavírus.
Formado pela Unesp de Araraquara, Elton Casagrande também sugere a imediata
correção da tabela do Imposto de Renda e o uso dos recursos do Fundo Eleitoral,
que seria utilizado pelos partidos políticos nas eleições municipais, para
investimentos em setores emergenciais.
Os investimentos estatais, tanto no fortalecimento da rede de atendimento de
saúde para enfrentar a epidemia quanto na priorização do pagamento de seus
servidores quanto dos funcionários da prestação de serviços, será fundamental
para que a economia brasileira sobreviva a esta grande crise. “O Fundo
Eleitoral, que é um montante enorme de recursos deve ser voltado para os
setores emergenciais da economia. Os políticos devem ficar em segundo lugar.
Pelo menos uma vez na vida”, desabafa ele.
“Atualmente, a questão do isolamento das pessoas provoca redução da atividade
econômica genérica como estamos vendo. Neste momento o papel do Estado é
fundamental. Se formos recuperar o que ocorreu na Crise Mundial de 1929, o
papel do Estado foi o de gastar em atividades que possam movimentar a economia.
O problema é que o mercado de trabalho está parando, pois as pessoas não podem
ter mobilidade. É uma combinação de não mobilidade com não consumo. Isso é uma
grande armadilha par ao conjunto do todo”, explica ele.
TABELA DO IMPOSTO DE RENDA – Segundo Casagrande, no setor público, se você
reduz salário, você reduz uma parcela estável da demanda. “É recomendável um
corte substancial de 30% a 35% na tabela do Imposto de Renda. Com isso,
poderemos aumentar a renda das pessoas para que se mantenha um ciclo de renda
mínima para se manter os pagamentos. Do contrário a economia só cairá mais. ”
O economista explica que numa crise global como esta, o papel do Estado é
extremamente relevante até nos municípios, com o eventual corte ou redução das
tarifas de água, energia elétrica e IPTU. Assim, as pessoas poderiam voltar
suas rendas para as compras emergenciais. Isso , porém, também os municípios,
principalmente os mais frágeis. Eles não terão arrecadação para pagar suas
folhas salariais. A tentativa é manter o ciclo de renda funcionando. Ao invés
de cortar, temos que aumentar os gastos. Mas as pessoas não podem ficar guardando
o dinheiro. “Elas têm que levar adiante este ciclo, mesmo não funcionando
produtivamente”.
A IMPORTÂNCIA DA ECONOMIA INFORMAL – Ele destaca que economia vai encolher e
que isso aumenta a importância da economia informal. “Por isso, a importância
especialmente na situação do mercado de trabalho. A recuperação econômica foi
feita principalmente no setor informal. O setor formal do emprego cresceu, mas
a informalidade avançou mais. ”
Casagrande aponta o SUS com um setor com papel fundamental tanto para atender e
curar as vítimas do contágio como também um segmento que vai gerar renda e
promover gastos públicos para manter certa atividade econômica.
“Uma coisa essencial é o sistema de saúde, principalmente o SUS. A maior
garantir de preservação da atividade econômica é a capacidade do sistema de
saúde tratar aas pessoas neste ciclo de contágio. Todos os gastos públicos que
estabelecem uma rede social de seguridade. Retirar dinheiro desta rede é desarmar
a capacidade de resposta de uma atividade econômica. Tudo hoje se assenta nas
chances de cada hospital, unidades de pronto atendimento, oferecer tratamento às
pessoas. A atividade econômica vai depender muito do sistema de saúde”, explica
o especialista.
SÃO CARLOS E AS ENCHENTES – Para ele, municípios, estados e federação devem cortar
gastos não essenciais e destinar este dinheiro para folhas de pagamento e
pagamentos de serviços que envolvam pessoas. Ele lamenta que em São Carlos a
situação de mais de 100 comerciantes é ainda pior, uma vez eu foram vítimas de
severos prejuízos no início do ano que foram causados por duas das piores
enchentes da história da cidade. Alguns comerciantes perderam todos os
produtos. Muitos se refizeram, mas alguns encerraram as atividades.
Os problemas das enchentes revelaram a falta de investimentos em infraestrutura,
revelando falhas de planejamento de décadas. A epidemia veio na sequência, sem
dar um tempo para os empreendedores tomarem um fôlego. O efeito sobre o capital
de giro é enorme. Por isso, a dimensão dos governos municipal, estadual e
federal em manter renda e gastos é fundamental, porque outras entidades
econômicas possam conseguir fazer seus pagamentos e honre seus compromissos
mesmo sem ter faturamento. Parece fazermos o contrário, mas é fazendo
exatamente o contrário do normal é que sairemos desta situação difícil”,
conclui Casagrande.