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‘Efeito Ford’ não deve se estender a montadoras da região central

Segundo Paulo Cereda, Honda e VW, que têm fábricas na Região Central, disputam mercados diferentes, com outros produtos

14/01/2021 06h05 - Atualizado há 3 anos Publicado por: Redação
‘Efeito Ford’ não deve se estender a montadoras da região central Fotos: Marco Rogério e Divulgação / Ford

O anúncio da desativação das três plantas produtivas da Ford no Brasil esta semana não terá efeito dominó atingindo a fábrica de motores da Volkswagen em São Carlos e a fábrica de automóveis em Itirapina. A análise é do economista Paulo Cereda.

“São mercados diferentes. A VW concorre num mercado com carros populares e a Honda também concorre em outros nichos de mercado, com outros tipos de produtos. Os analistas preveem que haverá um crescimento de 4% na economia este ano. As decisões de multinacionais são tomadas no âmbito restrito de suas direções mundiais. A curto prazo não acredito que a Honda ou a Volks deixem a região. E mesmo se deixassem não teriam o mesmo impacto que haverá em Taubaté (SP), em Camaçari (BA) ou em Horizonte (CE), pois as economias da região não se concentram apenas nestas montadoras”, comenta o economista.

Segundo ele, a saída da Ford do Brasil era a crônica da morte anunciada. “A operação da empresa não vinha bem das pernas há algum tempo. Desde a crise de 2013 a situação da empresa era complicada. Apesar de ser a quinta maior vendedora de carros no país isso não significa que vender mais de 100 mil veículos, seja suficiente para superar a queda de mais de 30% nas vendas em relação a 2019. A empresa privada busca sempre o lucro. Assim, a estratégia foi rever algumas posições e houve a decisão de encerrar as atividades no Brasil, talvez pela tributação e outros custos altos no Brasil”, explica.

PREJUÍZO PARA CONSUMIDORES – O economista afirma que o normal é que os milhares de proprietários de veículos da Ford fiquem com algum prejuízo, já que os veículos da marca devem sofrer uma automática desvalorização. “Temos que ver ainda quantas concessionárias da Ford vão sobreviver a estas mudanças. A tendência é que a partir do momento em que for necessário se importar peças para manutenção, mesmo que da Argentina e do Uruguai, os reparos vão se tornar bem mais caros. Isso vai gerar prejuízos para os consumidores”.

A LIÇÃO QUE FICA – Cereda ressalta que a desativação da Ford revela que não vale à pena aos municípios promoverem tanta guerra fiscal, com renúncia de impostos e doação da áreas. Segundo ele, concentrar a economia de um município em uma única grande fábrica multinacional é algo que pode causar muitos problemas ao longo do tempo.

“Na verdade o melhor é ter uma economia diversificada e, de preferência, distribuída em pequenas e micro empresas, pois estas dificilmente se transferem de cidade. Isso sem contar que as empresas de porte menor são as que mais geram empregos. Além disso, cada vez mais, as grandes empresas do setor fabril são intensas em tecnologia. Cada vez mais as linhas de montagem contarão com mais robôs e sistemas automatizados e menos trabalhadores”, explica o economista.

BRASIL TRATA MAL A INDÚSTRIA – Para o empresário e ex-diretor regional do CIEPS, Ubiraci Moreno Pires Corrêa, a saída da Ford do Brasil revela que o país não trata bem a sua indústria. “Aqui o setor industrial é maltratado. É muita burocracia, um carga tributária irracional e leis trabalhistas absurdas. Assim, uma marca forte como a Ford não sendo tratada com carinho no Brasil, toma o caminho natural que é deixar o país. Serão milhares de trabalhadores na rua por falta de uma atenção maior ao setor industrial brasileiro. É lamentável”, ressalta ele.

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