Menos de 25% das ocupações no Brasil têm potencial de teletrabalho
Desigualdades regionais também se refletem no trabalho remoto
O teletrabalho,
também chamado de home office, é possível para 22,7% das ocupações
no Brasil, estima um estudo que reuniu pesquisadores do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). O dado consta na nota técnica “Potencial de Teletrabalho na
Pandemia: Um Retrato no Brasil e no Mundo”, divulgada nesta última
quarta-feira (03) pelo Ipea.
Uma pesquisa internacional aponta Luxemburgo, na Europa, como o país com maior
potencial de trabalho remoto, que poderia se aplicar a 53,4% das ocupações. O
patamar é muito superior ao de economias menos desenvolvidas, como as da
América Latina. Na região, o maior percentual é o do Chile, com 25,7%, e o do
Brasil, calculado por pesquisadores brasileiros, é o segundo maior. O
menor potencial de teletrabalho entre os 86 países pesquisados está em
Moçambique, na África, com apenas 5,24%.
O estudo brasileiro é assinado pelos pesquisadores Felipe Martins e
Geraldo Góes, do Ipea, e José Antônio Sena, do IBGE, que usaram metodologia
internacional adotada por pesquisadores da Universidade de Chicago.
As desigualdades regionais do Brasil também se refletem no potencial de
teletrabalho de cada estado. No Distrito Federal, estado com a maior renda
média, o percentual chega a 31,6%. São Paulo e Rio de Janeiro também
ficam acima do potencial nacional, com 27,7% e 26,7%, assim como os três
estados da Região Sul. O restante do país tem percentuais menores que a média
de 22,7%, sendo os menores no Piauí, com 15,6%, Pará, com 16%, e Rondônia, com
16,7%.
Ocupações
As ocupações analisadas foram agrupadas seguindo critérios internacionais, e os
maiores percentuais de probabilidade de teletrabalho estão nos grupos
profissionais das ciências e intelectuais (65%), diretores e gerentes (61%) e
trabalhadores de apoio administrativo (41%). Já para membros das Forças
Armadas, policiais e bombeiros militares, a probabilidade de teletrabalho foi
estimada em 0%, assim como para operadores de instalações e máquinas e
montadores, para ocupações elementares e para trabalhadores qualificados
da agropecuária, florestais, da caça e pesca.
Outros grupos que têm um baixo potencial de teletrabalho são os trabalhadores
dos serviços, vendedores dos comércios e mercados, com 12%, e os trabalhadores
qualificados, operários e artesãos da construção, das artes mecânicas e outros
ofícios, com 8%.
Nas conclusões do estudo, os pesquisadores destacam que a nota técnica
“revela as desigualdades regionais e as diferenças no acesso a essa
modalidade no território nacional”. O texto também destaca que a
incorporação de tecnologias relacionadas ao mercado de trabalho depende, em
grande parte, da renda e dos investimentos no processo produtivo.
“As perspectivas da retomada das atividades econômicas após a pandemia
devem levar em conta as novas modalidades de trabalho que emergiram e
foram marcantes no período de isolamento e que, muito provavelmente, serão
mais utilizadas”, afirmam.