Na contramão do restante da economia, setores essenciais aceleram contratações
Em meio à crise causada pela
pandemia do novo coronavírus, que deixou o brasileiro em quarentena e promete
provocar mais desemprego, empresas que são parte de setores essenciais (como
supermercados, hospitais e farmácias) estão contratando. Para dar conta da
maior demanda, esses negócios vão na contramão do resto da economia.
Desde a semana passada, é como se todo dia fosse
feriado para o comércio de diversas cidades brasileiras: com lojas fechadas,
exceto os serviços essenciais. Com a maior parte das pessoas em casa e com o
que não é considerado de primeira necessidade sem funcionar, as novas
oportunidades de emprego se concentram nos setores de alimentação e saúde.
O ex-feirante Willian dos Santos, de 30 anos,
comemora o emprego novo, de separador de itens orgânicos. “O momento é
triste para todos nós, mas, como tenho uma filha, ter conseguido emprego fixo
agora foi muito bom”, diz.
Juntas, as redes Carrefour, GPA e Big devem
contratar mais de 11 mil pessoas – entre vagas temporárias e efetivas. Só o
Carrefour abriu 5 mil postos em todo o País, temporários e efetivos.
Segundo a varejista, a necessidade de contratações
ocorre pela maior busca por itens de alimentação, artigos de higiene e limpeza.
A intenção é reforçar as equipes de atendimento.
Segundo o vice-presidente de Recursos Humanos do
Grupo Carrefour no Brasil, João Senise, todo o processo de contratação será
digital, exatamente para cumprir os protocolos para evitar a contaminação.
“Vivemos um momento atípico e queremos contribuir para que todos tenham
oportunidades de trabalho”, diz o executivo.
“Conseguir um emprego já é bom, mas, neste
momento, parece ainda mais importante”, conta Gisele Costa, de 22 anos,
que trabalha como operadora de caixa desde terça-feira em uma unidade na zona
sul de São Paulo. “Agora, trabalhar em supermercado é também alertar as
pessoas, pedir para evitarem aglomerações e apoiar os clientes idosos que não
têm quem faça compras por eles.”
O Big é outra rede que vai reforçar a equipe. A
empresa abriu mais de 500 vagas, desde operador de caixa a repositor, para as
unidades e centros de distribuição, com processo seletivo digital. “A tecnologia
é uma opção, até para tornar a seleção menos desgastante”, diz a diretora
executiva de RH, Cátia Porto
Reforço
As empresas também tentam substituir os
funcionários com mais de 60 anos, no grupo de risco da Covid-19, que devem
assumir outras funções.
Para reforçar o time durante o período de maior
procura nas lojas físicas, de bandeiras como Extra e Pão de Açúcar, e nos
canais online, o GPA fez o cadastro de currículos para seleção de mais de 5 mil
temporários. Eles vão trabalhar por 30 dias, que podem ser prorrogados.
Rodolpho Tobler, coordenador da Sondagem do
Comércio do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas
(Ibre/FGV), pondera que o movimento de contratações tende a ser pontual,
acompanhando a alta nas vendas dos primeiros dias de quarentena.
“No varejo, supermercados e medicamentos
têm se saído melhor do que outros segmentos, como os de eletrodomésticos e
roupas, o que se reflete nas contratações. Esse movimento de empregar mais,
porém, não deve ser sustentável pelos próximos meses, a não ser que a
quarentena se prolongue muito.”
As varejistas no Brasil seguem o movimento de
empresas pelo mundo. Em meio à pandemia, o Walmart, maior empregador privado
dos Estados Unidos, prometeu contratar 150 mil trabalhadores temporários. A
rival Amazon abriu 100 mil vagas.
Mesmo fora das grandes redes, há contratações.
Fundador da Raízs, serviço de venda e entrega de produtos orgânicos, Tomás
Abrahão conta que o número de pedidos quadruplicou nas últimas semanas. A
empresa dobrou o número de colaboradores e vai contratar mais. “Não dá
para ficar feliz com a situação atual, mas temos um papel importante a cumprir.”
Saúde
Somados, cinco hospitais de São Paulo e do Rio
têm mais de 3 mil vagas, para ajudar a suprir a demanda. Na linha de frente do
combate à covid-19 no País, o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, vai
chamar 1.426 temporários – 509 deles para o hospital de campanha no estádio do
Pacaembu.
Além dele, abriram seleções o Hospital São
Camilo (216 vagas) e o A.C. Camargo (130 postos), em São Paulo, o hospital
público Ronaldo Gazolla (841 temporários), no Rio, e a rede D’or (400 vagas),
nas duas cidades.