Taxas curtas fecham com viés de alta, demais caem com apetite por risco
A artilharia pesada para suavizar os impactos sobre a economia global, tem conseguido acalmar os mercados
A melhora da percepção de risco sobre a crise do coronavírus
definiu a trajetória dos juros futuros ontem (26), em que as taxas de curto
prazo terminaram a sessão regular com viés de alta e as intermediárias e longas
recuaram em até 50 pontos-base. Embora a pandemia do coronavírus esteja
acelerando a uma taxa exponencial, como alertou hoje a Organização Mundial da
Saúde (OMS), a ação tempestiva de governos e bancos centrais nas últimas
semanas, com artilharia pesada para suavizar os impactos sobre a economia
global, tem conseguido acalmar os mercados e, no caso dos juros, promover uma
desinclinação da curva.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 subiu
de 3,409% para 3,490% e a do DI para janeiro de 2022 passou de 4,502% para
4,43%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 7,76%, de 8,263%.
Segundo fontes da área de renda fixas, a melhora da confiança na atuação dos
governos acaba por amenizar o senso de urgência de cortes agressivos da Selic,
o que explica o comportamento da ponta curta, que, vale lembrar, vinha caindo
muito ultimamente, com a taxa do DI janeiro de 2021 ontem tendo renovado mínima
histórica. “O conjunto de medidas que estão sendo adotadas reduziu a
preocupação com o impacto do coronavírus e está favorecendo um ajuste nas
apostas de novo corte de 0,50 ponto da Selic”, disse o estrategista-chefe
do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Segundo ele, para a decisão do Copom em maio, a precificação da curva é de -34
pontos-base, ou seja, 36% de chance de corte de 0,5 ponto na Selic atual de
3,75% e 64% de possibilidade de queda de 0,25 ponto. Em entrevista sobre o
Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o presidente do Banco Central, Roberto
Campos Neto, negou a possibilidade de uma eventual decisão extraordinária de
mudança na taxa básica, a exemplo do que foi feito por diversos bancos
centrais. “Não há nenhuma razão para isso. Neste momento, a Selic está
apropriada”, disse.
O G20 salientou hoje que já injetou mais de US$ 5 trilhões na economia global,
como parte de políticas fiscais, medidas econômicas e esquemas de garantia
direcionados para combater os impactos da pandemia. Após atuar num primeiro
momento para injetar liquidez via sistema financeiro, agora as autoridades
discutem a possibilidade de trabalhar diretamente com as empresas, o que traz
algum alívio às preocupações com a explosão do desemprego, especialmente após a
aprovação do pacote de US$ 2 trilhões ontem pelo Senado norte-americano.
No Brasil, há ainda grande expectativa em torno do chamado “orçamento de
guerra” que o governo vai separar para as medidas de combate à epidemia.
Ainda que o pacote represente uma forte deterioração nas contas públicas, no
raciocínio do mercado é o que deve ser feito neste momento crítico.
“Pensar em o quanto dessa deterioração será um problema fica mais para
frente”, disse um gestor.