No Limite
Há uns bons anos, existia um programa de televisão que assistia com grande entusiasmo. Chamava-se “No Limite”.
Lembro intrigado, pois era pré-adolescente e pensava que aquelas eram as situações mais difíceis e desafiadoras que alguém poderia enfrentar.
Por ainda estar aprendendo a dar conta do mundo ao meu redor – saindo da infância e da supervisão parental para um período de maior autonomia –, entendia muito pouco dos problemas que viria a encarar como adulto. Por isso tamanho espanto diante das limitações vividas pelos participantes do reality.
Mas eis que vem a vida adulta e algumas percepções parecem se inverter completamente.
Às vezes, me pego pensando: talvez fosse mais fácil achar comida na floresta ou criar um abrigo do sol e da chuva do que lidar com as angústias de adulto e destes tempos que estamos vivendo.
A indigesta verdade é que os avanços técnicos, artísticos e de qualquer outra ordem podem suprir algumas das nossas necessidades básicas, mas nenhum deles vai dar conta do vazio existencial que nos marca essencialmente.
Em outras palavras, inúmeras descobertas tecnológicas podem se suceder, mas sempre vai nos faltar “alguma coisa”. Várias aspas aqui, pois “isso” que falta sequer tem nome e desvela nada mais, nada menos, do que o limite. O limite da nossa linguagem e capacidade de simbolização. O limite da existência e da pretensa onipotência humana, colocada sempre à prova.
Pensando bem, nem precisaria de um reality show para nos darmos conta que vivemos no limite. Resta saber o que fazemos diante disso. Aceitamos nossas limitações? Ou nos perdemos na tentativa de escondê-las?
Elói B. Doltrário
CRP 06/158865