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O que você acha?

26/11/2020 17h29 - Atualizado há 3 anos Publicado por: Redação
O que você acha? Foto: Reprodução

A frequência com que escuto esta pergunta na clínica é muito grande. Carrega a marca de algo que já abordei anteriormente, mas que precisa ser relembrado: o quanto importa para cada um de nós a opinião do outro.

Se você fizer um esforço – e talvez nem precise se esforçar tanto – poderia separar diversas de suas escolhas em duas colunas: a das escolhas que obtiveram aprovação e a coluna das que foram reprovadas, sejam por pessoas muito próximas a você ou até as de uma comunidade mais ampla, como do trabalho, da escola, igreja ou qualquer outro grupo semelhante.

É de se esperar que a aprovação obtida em algumas tenha sido satisfatória e que as escolhas e atitudes desta coluna tenham se mantido, mesmo que não fossem a 1ª opção. Mas não quer dizer que aquelas que foram reprovadas tenham sido esquecidas, afinal de contas, antes da opinião alheia, emergiram de um desejo. E é justamente este desejo que tendemos a minimizar em vista da sujeição à vontade do outro.

E aqui chegamos ao ponto central deste texto: sujeitar-se à vontade do outro pressupõe que ele saiba [sempre] o que é melhor pra você. Coloca em segundo plano a singularidade da sua experiência, as motivações que te levaram a cogitar tal ou tal escolha. Em última instância, te apaga!

Isso não quer dizer que a experiência de outras pessoas seja irrelevante – que você precise se queimar para então saber que não deve colocar a mão no fogo. Não, pelo contrário. Trata-se, na verdade, de ajustar seus critérios para reconhecer que as suas vivências são tão importantes quanto as de qualquer outra pessoa. Não há motivo para se considerar inferior!

Até aqui, parece bonito, não é? Mas não é tarefa fácil.

É tão habitual nos pautarmos pela aprovação do outro que diante de qualquer nova escolha levantamos inúmeras dúvidas a respeito dos nossos próprios julgamentos. Por isso, é tão desconfortável escutar em resposta à pergunta do título um “Não acho nada. O que você pensa sobre isso?”. Não porque como psicólogo eu não tenha uma opinião sobre o assunto, mas porque também eu não devo medir o outro segundo minha própria régua.

E a clínica deve ser este espaço, em que o indivíduo se sente autorizado a pensar algo – por mais simples que possa parecer – a partir de si mesmo, o que pode ser um avesso do que existe do lado de fora, com tantas opiniões a atender.

Elói B. Doltrário

CRP 06/158865

www.eloidoltrario.com.br

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