‘Dormindo’, Mandetta diz que não ouviu fala de Bolsonaro sobre demissão
O ministro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta (DEM), se esquivou dos recados do presidente Jair Bolsonaro
dados neste último domingo (05) que sinalizou que poderia demitir do governo
quem está “se achando”. Questionado pela reportagem cerca de uma hora
após as declarações, Mandetta afirmou que ainda não tinha visto a frase.
“Eu estou dormindo”, disse, parecendo bocejar ao telefone.
“Amanhã eu vejo, tá?”, completou, antes de encerrar a ligação.
Bolsonaro disse a apoiadores em frente ao
Palácio da Alvorada que “algo subiu na cabeça” de alguns de seus
subordinados, mas que a “hora deles vai chegar”. “A minha caneta
funciona”, afirmou Bolsonaro. “Algumas pessoas no meu governo, algo
subiu à cabeça deles. Estão se achando. Eram pessoas normais, mas de repente
viraram estrelas. Falam pelos cotovelos. Tem provocações, mas a hora deles não
chegou ainda não. Vai chegar a hora deles. A minha caneta funciona. Não tenho
medo de usara a caneta nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil, não
é para o meu bem”, disse Bolsonaro.
Mandetta e Bolsonaro têm divergido sobre estratégias
de isolamento da população contra o novo coronavírus. O ministro defende uma
ação mais ampla, para evitar aglomerações e estimular redução de fluxo urbano,
com medidas como trabalho em home office e fechamento do comércio em locais com
grande número de casos. Já Bolsonaro defende um “isolamento vertical”
em que sejam afastadas pessoas acima de 60 anos ou que apresentem outras
doenças.
Bolsonaro escancarou descontentamento com
Mandetta na última semana. O presidente disse que falta “humildade”
ao ministro e, embora tenha afirmado que não pretende dispensá-lo “no meio
da guerra”, ressaltou que ninguém é “indemissível” em seu
governo. O protagonismo do auxiliar diante da crise envolvendo a pandemia do
coronavírus já vinha incomodando o presidente há algum tempo. Questionado pelo
jornal O Estado de S. Paulo sobre
as declarações de Bolsonaro, feitas na última quinta-feira (02), Mandetta
respondeu: “Trabalho, lavoro, lavoro”, repetindo a palavra que
significa “trabalho” em italiano.
No dia seguinte às declarações do chefe,
Mandetta disse que continuaria no governo, afirmando que um médico não abandona
o seu paciente.