Filiado ao PSDB, Bebianno diz que Bolsonaro põe democracia em risco
Ex-ministro do governo de
Jair Bolsonaro e ex-líder do PSL, o advogado Gustavo Bebianno afirmou neste
último domingo, 1º, que a democracia no Brasil se encontra em risco por causa
da postura do presidente da República. “O momento político que
atravessamos hoje é grave, gravíssimo, nossa democracia está em risco”,
disse Bebianno em evento no Rio que marcou sua filiação ao PSDB e contou com a
presença do governador de São Paulo, João Doria. “Tudo que o presidente
quer é um pretexto para a adoção de medidas autoritárias.”
Segundo a análise de Bebianno, o País vive um
ambiente de “instabilidade política e econômica” provocado pelo
“grau de loucura e irresponsabilidade capitaneado pelo próprio
presidente”. O ex-aliado político de Bolsonaro criticou o autoritarismo do
governo, sobretudo pelas recentes menções ao AI-5 feitas pelo ministro da
economia, Paulo Guedes, e pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Para Bebianno, a fala de Paulo Guedes sobre o
AI-5 foi desastrada e pode ter sido fruto de um erro. “A outra hipótese é
que tenha sido um ato falho dele, de tanto ouvir essa conversa no Palácio do Planalto”,
disse. “Vejo os fanfarrões de boate querendo brigar, mas eles não têm
ideia das consequências de uma briga, sangue, morte. O Brasil não precisa
disso. Temos que defender nossa democracia.”
Bebianno disse que a decisão do presidente de
excluir o jornal Folha de S.Paulo de licitação do Palácio do
Planalto abre caminho para um pedido de impeachment. “Essa atitude
demonstra que ele faz tudo aquilo que acusa seus oponentes de fazer, é um
absurdo”, afirmou. “Ele está afrontando um princípio básico da
Constituição que é a liberdade de imprensa e a própria democracia. Abre um
flanco enorme para responder a um processo de impeachment.”
Antes, em discurso, Bebianno já tinha tomado a
defesa do que chamou de “imprensa tradicional”. Segundo ele, a
imprensa pode cometer erros, como todo mundo, mas ela é crucial para a
democracia. Bebianno não poupou críticas a Bolsonaro e a seus filhos Eduardo e
Carlos, que chamou de “debiloides”. “O governo é uma fábrica de
problemas”, disse Bebianno. “O presidente não tem nenhum interesse
pelo social, pela cultura, pela saúde, por nada daquilo que é importante para o
País; ele pensa única e exclusivamente em sua reeleição.”
Para Bebianno, a postura de Jair Bolsonaro após
a eleição o surpreendeu. “Foi uma surpresa que ele permitisse que os dois
filhos debiloides dele, pode botar aí, debiloides, assumissem um protagonismo
tamanho na República brasileira”, afirmou, se referindo a Eduardo e
Carlos. “São duas pessoas que não têm a menor expressão, nem intelectual
nem política; dois seres inexpressivos, abaixo da crítica, que estão comandando
as diretrizes do país de forma oficiosa.”
Bebianno só poupou, parcialmente, o senador
Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ). “Não digo que ele é preparado porque
nenhum dos três é”, ressalvou. “Mas é o único da família que tenta
ponderar, arrefecer os ânimos; testemunhei várias vezes suas tentativas de
baixar o tom do pai, enquanto os outros dois, o nenê 02 e o nenê 03, ficavam
insuflando o pai a fazer bobagem.”
O governador João Doria disse, em discurso, que
Bebianno agora “está no caminho certo”, mas que seu passado “não
foi um erro, mas sim um aprendizado”.
“Bebianno traz força e experiência para
contribuir com o projeto do novo PSDB”, disse Doria. “O PSDB está no
centro democrático, pode receber quem tem pensamentos mais à esquerda ou mais à
direita, só não adota extremismos.”
Bebianno foi o primeiro ministro a perder o
cargo no governo Bolsonaro. Ele deixou a Secretaria-Geral da Presidência após
desentendimentos com a família do presidente. Carlos Bolsonaro chamou Bebianno
de “mentiroso” após o então ministro conceder entrevista dizendo que
não estava isolado no Planalto em razão de denúncias de participação em esquema
de candidaturas laranjas do PSL para desviar recursos do Fundo Eleitoral, em
2018. Bebianno presidia a sigla durante as eleições.
Na tentativa de minimizar a crise, o ministro
afirmou que falara três vezes com Bolsonaro, que estava internado no Hospital
Albert Einstein, recuperando-se de uma cirurgia para reconstrução do trânsito
intestinal. Carlos Bolsonaro desmentiu a declaração pelo Twitter, divulgando
áudios do presidente, que endossou a atitude do filho horas depois. A briga
culminou na demissão de Bebianno.