MPF vai apurar denúncia contra Flávio Bolsonaro
O procurador-geral da
República, Augusto Aras, vai analisar a suspeita de vazamento de informações de
operação da Polícia Federal ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ),
relatada pelo empresário Paulo Marinho (PSDB-RJ) ao jornal Folha de S Paulo. Suplente de
Flávio, Marinho disse ter ouvido do senador que ele possuía informações
sigilosas acerca de investigações envolvendo o ex-assessor Fabrício Queiroz.
“O procurador-geral da República analisará
o relato junto com a equipe de procuradores que atua em seu gabinete em matéria
penal”, informou, em nota, a Procuradoria-Geral da República (PGR). O
órgão não informou se abrirá um procedimento para investigação. Após a
publicação da entrevista, Marinho também recorreu às redes sociais na manhã do
último domingo (17), unindo o slogan eleitoral de Jair Bolsonaro à frase
pronunciada por Sérgio Moro ao deixar o Ministério da Justiça: “Verdade
acima de tudo. Fazer a coisa certa acima de todos.”
À noite, a Polícia Federal divulgou nota na qual
informa que “o suposto vazamento de informações na operação Furna da Onça
foi regularmente investigado pela PF através do Inquérito Policial n º 01/2019,
que se encontra relatado”. A nota acrescenta: “Todas as notícias de
eventual desvio de conduta devem ser apuradas e, nesse sentido, foi
determinada, na data de hoje, a instauração de novo procedimento específico
para a apuração dos fatos apontados”.
Marinho, que é suplente do senador Flávio,
afirmou que o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro lhe contou ter
recebido informações sigilosas da Polícia Federal (PF) sobre a investigação que
então envolvia seu assessor Fabrício Queiroz. Segundo o relato, um delegado da
PF avisou das investigações pouco após o primeiro turno das eleições gerais
daquele ano. E teria dito, ainda, que membros da Superintendência da PF no Rio
adiariam a Operação Furna da Onça para não prejudicar Jair Bolsonaro na disputa
contra Fernando Haddad (PT). Em nota, publicada ontem, Flávio Bolsonaro negou a
acusação
Ainda de acordo com o relato de Marinho, o
delegado da PF teria orientado Flávio a exonerar Fabrício Queiroz de seu
gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. No dia 15 de outubro, foram
demitidos tanto Queiroz quanto a filha dele, Nathalia Queiroz, lotada no
gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. A Operação Furna da Onça
foi deflagrada em 8 de novembro de 2018, pouco mais de uma semana após o segundo
turno, do qual Bolsonaro saiu vitorioso.
Toda a história do vazamento, conforme as
declarações do empresário, foi relatada pelo próprio Flávio em reunião com
advogados na casa de Paulo Marinho. Na campanha presidencial, o empresário era
um dos apoiadores de Jair Bolsonaro. Ele ofereceu a casa para reuniões do então
candidato com o grupo que o auxiliou na disputa eleitoral.
A Operação Furna da Onça, a cargo da
força-tarefa da Lava Jato do Rio, investigou a participação de deputados
estaduais fluminenses em esquema de corrupção que pagava propina mensal
(mensalinho) durante o mandato 2011-14. De acordo com as investigações, a
propina resultava do sobrepreço de contratos estaduais e federais. Dez
deputados tiveram a prisão decretada. Flávio, que era deputado estadual, ficou
de fora da operação.
Fabrício Queiroz também não estava entre os
alvos, mas a investigação acabou por detectar movimentação financeira atípica
por parte dele. Um relatório do então Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf), revelado pelo Estadão, colocou Queiroz no noticiário político nacional e gerou
desgastes para Flávio Bolsonaro.
Mais tarde, o Ministério Público do Rio
continuou a apuração originada na Furna da Onça com base na suspeita de que o
dinheiro movimentado por Queiroz fosse, na verdade, resultado da apropriação de
salários de funcionários do gabinete de Flávio.
O dinheiro depois teria sido lavado com a compra
de imóveis que fazem parte do patrimônio do filho do presidente. Em razão
disso, o Ministério Público obteve na Justiça a quebra dos sigilos bancário e
fiscal do senador, de Queiroz, da mulher do senador, Fernanda Bolsonaro.
Invenção
O senador classificou a acusação de
“invenção” e afirmou que o empresário tem interesse em prejudicá-lo,
já que é suplente de Flávio Bolsonaro no Senado. Em nota publicada em suas
redes sociais, Flávio Bolsonaro diz que “o desespero de Paulo Marinho
causa um pouco de pena” e que o empresário “preferiu virar as costas
a quem lhe estendeu a mão”, ao trocar a “família Bolsonaro por Doria
e Witzel”, e “parece ter sido tomado pela ambição”.
Em 2018, Marinho, que era amigo do ex-ministro
da Justiça Gustavo Bebianno, acabou escolhido como suplente de Flávio
Bolsonaro. O empresário depois se afastou da família Bolsonaro e acabou nomeado
presidente regional do PSDB no Rio, em uma articulação do governador de São
Paulo, João Doria (PSDB). Quando Bebianno foi exonerado do ministério, em 2019,
e rompeu com o presidente, filiou-se ao PSDB, despontando como pré-candidato à
Prefeitura do Rio nas eleições deste ano. Com o falecimento de Bebianno, em
março, Doria indicou Marinho como candidato.