O Brasil tem grande possibilidade de recuperação, afirma FHC
O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso avaliou que o Brasil apresenta fatores positivos para a
superação econômica da crise causada pela pandemia do novo coronavírus, mas
ressalvou que, com sorte, levará dois ou três anos para que o País retorne a
níveis anteriores à crise causada pela emergência sanitária. “E vai levar
mais tempo se não atuarmos contra a epidemia e se perdermos a esperança. Essa é
a função principal de quem está no comando”, completou o ex-presidente.
“Temos mão-de-obra, que vai ficar sem emprego, abundante
e trabalhadora, temos capacidade empresarial e temos alguns setores nos quais
podemos atuar e que vão continuar com epidemia ou sem epidemia porque são
necessários”, disse FHC. Entre as atividades, o ex-presidente citou a
participação do agronegócio e do setor financeiro.
Fernando Henrique defendeu também atenção aos gastos
públicos. “É claro que nesse momento de aflição as regras de controle
fiscal diminuem, então pode haver um descontrole. Você tem que sempre ter
presente que é preciso ao mesmo tempo olhar com atenção o custo de tudo isso,
que será elevado. Esse custo vai se traduzir em impostos, e, no Brasil, o
imposto quem paga é geralmente mais o mais pobre que o mais rico”, afirmou
o ex-presidente.
FHC ainda disse que “a dívida do Brasil é grande e vai
aumentar” mas defendeu que o aumento do débito seja feito através do
endividamento interno. O ex-presidente participou nesta última quinta-feira
(25) de transmissão ao vivo promovida pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide)
de Ribeirão Preto (SP).
Bolsonaro
Fernando Henrique Cardoso defendeu que o atual presidente da
República, Jair Bolsonaro, exerça um papel de diálogo e de liderança durante a
pandemia do novo coronavírus. “Eu acho que nosso presidente (Jair
Bolsonaro) precisa ser menos afoito. Eu entendo a aflição dele”, afirmou o
ex-presidente.
Segundo FHC, “o fato do Supremo Tribunal Federal ter
decidido que a responsabilidade é dos governadores, e dos prefeitos em certas
matérias, não elimina que a responsabilidade política de quem vai pagar o preço
maior é de quem está no comando geral da nação”.
Criticado pela condução do combate ao vírus, Bolsonaro tem
respondido com ataques a governadores e prefeitos, uma vez que o STF decidiu
por garantir a autonomia dos entes federativos em decisões de saúde pública
como medidas de isolamento social e fechamento do comércio.
O ex-presidente também não descarta que a democracia
brasileira se torne “menos eficaz”. “Não acho que seja uma
palavra de ordem razoável aspirar ao impeachment. Tem que se buscar o bom
governo”, declarou. “Quando acontece uma coisa como agora, uma
pandemia desse tipo mais uma crise econômica, os outros Poderes passam a ter
peso. Não quer dizer que estão invadindo a área do Executivo – eventualmente
invadem -, mas é porque o Executivo não está assumindo a direção”,
defendeu o ex-presidente.