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Para especialista, Garcia tenta repetir estratégia de Bolsonaro em 2018

Para Maria do Socorro, tendência é que força de SP nacionalize disputa eleitoral, criando problemas sérios ao candidato tucano

10/08/2022 23h57 - Atualizado há 2 anos Publicado por: Redação
Para especialista, Garcia tenta repetir estratégia de Bolsonaro em 2018 Facebook

“Como São Paulo tem uma dimensão econômica nacional e é o maior Estado, a nacionalização aqui pega muito forte”

 

“Talvez, aqui por esta diversidade de setores econômicos, que talvez se ocupem mais das questões econômicas, te talvez tenham deixado de lado a disputa político-partidária”

 

O tucano Rodrigo Garcia tenta repetir a estratégia que o presidente Jair Bolsonaro utilizou em sua campanha vencedor ade 2018, se colocando como um candidato sem padrinho e uma espécie de outsider. Porém, ficar fora da disputa entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula num Estado tão importante como o de São Paulo, poderá custar muito caro para o atual governador, que concorre à reeleição. Ao invés de ir para frente, como Garcia afirma que vai, ele poderá caminhar para a derrota. Esta é a análise da cientista política e professora da UFSCar, Maria do Socorro Braga. Nesta entrevista ela também fala da força do antibolsonarismo e reflete como a força econômica de São Carlos não se traduz em força política.

 

PRIMEIRA PÁGINA – Em 2022 deveremos ter uma eleição bastante disputada. Esta disputa terá alguma semelhança com as eleições de 2018?

MARIA DO SOCORRO – As eleições deste ano acontecem num contexto de maior acirramento da radicalização, principalmente dos bolsonaristas. Se em 2018, este movimento conservador, radical, populista e autoritário a gente não conhecia daquela forma, neste ano a gente já conhece. Este movimento será muito forte nas eleições de 2022. Agora, o antibolsonarismo cresceu muito também. E este é um fenômeno que naquele momento não existia. Agora, o antibolsonarismo é um movimento muito mais forte do que o antipetismo, que foi mais forte nas eleições de 2018. Este movimento antipetista perdeu fôlego de lá para cá diante da radicalização do atual grupo que está no poder hoje. Atualmente temos a junção de vários movimentos sociais pró-democracia, pró-instituições eleitorais, a favor de um estado democrático de direito. Em 2018 não existia este movimento, mais um movimento anticorrupção, ante estado, antipolítica e antipartidos e num outro sentido, de desconfiança com a classe política relacionada a partidos políticos. Hoje a maior desconfiança é com relação ao grupo que está no poder e sua pauta conservadora e autoritária com o apoio das forças armadas. Isso é impressionante ou pelo menos parte das forças de segurança está a favor deste estado de coisas.

 

PP – A senhor que as eleições de 2022 serão uma continuação das eleições de 2018?

MARIA DO SOCRRO – Em parte. Temos duas forças principais que são as mesmas que tiveram maiores desempenhos em 2018, com o PT de um lado, com o ex-presidente Lula. Naquele período ele teve que ser trocado, mas ele era a grande liderança também. Poderia ter ganho, mas sua ascensão foi interrompida e o Haddad assumiu. Do outro lado você tinha o PSL com a tentativa de Jair Bolsonaro que foi, à medida que vários fatores foram ocorrendo, ele foi tomando a dianteira e assumindo o lugar do PSDB. Os tucanos perderam ali as condições de segunda força política do país e nestas eleições de 2022 estamos vendo a mesma coisa. Por enquanto o PSDB não conseguiu seguir lançar candidato e está apoiando a candidata do MDB pela primeira vez. E o Bolsonaro agora em outro partido, o PL, se mantem no segundo lugar e o ex-presidente Lula e demais partidos coligados em primeiro lugar. Temos aí uma conjugação, uma correlação de forças que é muito interessante. Como um centro democrático ou chamado de centro democrático ou direita liberal ou neoliberal que tenta se apresentar com força para tentar voltar aos patamares que tinham em eleições anteriores.

 

PP – Temos no Estado de São Paulo, um candidato à esquerda e outro à direita. No meio do tiroteio temos o candidato Rodrigo Garcia que diz que não vai pela esquerda e nem pela direita, para sim, para a frente. Como a senhora vê esta estratégia?

MARIA DO SOCRRO – Com relação ao São Paulo, é uma estratégia interessante a do Garcia. Ele é um candidato do ponto de vista majoritário, desconhecido. Ele tem o apoio de mais de 600 prefeitos do Estado de São Paulo, mas está ainda no mesmo patamar do ponto de vista eleitoral do candidato apoiada pelo Governo Federal. A estratégia dele é sair desta polarização nacional e tentando desnacionalizar a campanha dele, vendendo a imagem de um candidato solo, independente de padrinho político, de coligação, se vendendo como um candidato outsider da política, que foi, em certa medida, a estratégia do Bolsonaro em 2018. Pode ser que neste cenário de muita polarização ele até consiga reaver votos. Porque, a dependente desta polarização, o cenário de São Paulo o ajude. Vai depender da capacidade tanto do ex-presidente Lula de um lado e do presidente Jair Bolsonaro por outro de conseguirem maior apoio eleitoral no Estado de São Paulo.  Por exemplo, se o Bolsonaro tiver maior condições de vencer em São Paulo, isso vai ser muito ruim para Garcia. A tendência vai ser este fator ajudar o candidato apoiado por Bolsonaro, que é Tarcísio, do Republicanos. Agora, ao contrário se Lula for quem tiver as melhores condições aqui, será Haddad que terá tudo para subir ainda mais nas pesquisas, onde já está em primeiro lugar. Como São Paulo tem uma dimensão econômica nacional e é o maior Estado, a nacionalização aqui pega muito forte. Mas é muito difícil a posição dele. Ele não só escondeu sua ligação com candidatos nacionais, já que não comprou o apoio a Simonte Tebet, pois está com votação muito baixa. Ao mesmo tempo ele tenta ficar ao largo das grandes candidaturas nacionais. Vamos ver como ele se sai nos próximos debates.

 

PP – A PEC Kamikaze com o pacote de bondades pode ser encarada com uma “bomba relógio” para o próximo governo?

MARIA DO SOCORRO – Com certeza todas estas medidas eleitoreiras, que são vendidas como questões emergenciais, como a PEC da bondade ou PEC kamikaze com auxílios emergenciais. Tudo isso vai trazer problemas num futuro próximo para qualquer governante seja o atual ou seja um novo. A gente está enfrentando uma crise econômica, com recessão e aumento da inflação. Então, neste cenário, inclusive pensando internacionalmente, com as questões da Guerra da Ucrânia, pensando também na Petrobras, o governo atual ultrapassa todas as expectativas der tudo o que poderia lançar mão para tentar se reeleger. Infelizmente ele está deixando o país na deriva com muitos problemas econômicos a ser resolvidos no próximo ano. O Congresso Nacional está conformado hoje de uma forma que os partidos da base, do centrão, que apoiam o atual presidente, vão conseguir se manter nos cargos e até ampliar em certa margem e terão como manobrar para pensar em outras medidas para melhorar esta situação. Temos que esperar um pouco mais de como estas forças vão se colocar, já pensando na vitória deste ano e na governabilidade do país.

 

PP – Numa disputa tão acirrada qual seria o melhor cenário para São Carlos em 2023?

MARIA DO SOCORRO – Na minha avaliação as propostas ainda estão sendo veiculadas, mas as propostas mais progressistas, acredito que elas conversem melhor com qualquer cidade, pois a ideia é de que a população tenha uma melhor qualidade de vida. Apesar de todos os problemas que vamos enfrentar, não é jogar para o cidadão, a eleitora e o eleitor, para pagar os custos de más decisões que estão sendo tomadas hoje. Vão ter que distribuir por todos, todos os encargos e problemas que vamos ter em 2023. Por isso ainda acredito que propostas progressistas como as do Fernando Haddad, que está conseguindo juntar vários partidos ao redor de si, ainda traz melhores contribuições para as diferentes cidades que compõem o Estado de São Paulo.

 

PP – Por que a força econômica de São Carlos não se traduz em força política, com a cidade sempre ficando atrás de Araraquara na disputa por obras verbas e investimentos?

MARIA DO SOCORRO – São Carlos é um grande polo tecnológico, tem um polo industrial importante, com muitas empresas de alta tecnologia. Mas esta força econômica não se traduz atualmente em força político-partidária. Houve um tempo em que isso foi maior. Talvez São Carlos esteja passando por um período de transição. Está aí um tema que nunca estudei. Esta sua pergunta me faz pensando numa excelente pesquisa de poder local para a gente entender melhor esta diferença que você apontou entre Araraquara e São Carlos. Já houve, no passado, esta relação muito forte. Temos em São Carlos duas grandes universidades públicas, além universidades privadas. Estas universidades já tiveram candidatos a vários cargos, inclusive prefeitos várias vezes, vinculados à Federal. E aí tínhamos um grande acirramento entre setores populares, sindicatos, forças da sociedade civil e setores econômicos disputando por outros partidos. Estas forças ligadas á sociedade civil se desmobilizaram. Pelo menos é o que mais me parece plausível para tentar explicar um pouco esta situação atual. Esta é uma hipótese, pois não há pesquisa para podermos explicar a ausência de setores econômicos na vida política partidária. Normalmente esta relação se faz muito forte em outras cidades. Talvez, aqui por esta diversidade de setores econômicos, que talvez se ocupem mais das questões econômicas, te talvez tenham deixado de lado a disputa política-partidária. Talvez tenhamos que estudar São Carlos a partir do ano 2000 para sabermos melhor o que aconteceu em formação, desenvolvimento e materialização de disputa partidária em São Carlos. Precisamos estudar mais este contexto local.

PP – São Carlos novamente vai lançar um número muito alto de candidatos. Como a senhora vê esta enxurrada de candidaturas a deputado estadual e deputado federal?

MARIA DO SOCORRO – Embora tenhamos eleitorado suficiente para eleger um deputado federal e um deputado estadual, o grande número de candidatos acaba fragmentando a votação. Seria necessária uma coordenação dos partidos políticos para lançar menos candidatos. Sem isso, dificilmente vamos eleger alguém. Vamos torcer para que nossa elites locais consigam fazer esta coordenação com as demais cidades da região. A eleição de deputados depende de uma coordenação de várias cidades. Devido à fragmentação é muito difícil eleger só pelos votos de São Carlos. Existe uma disputa muito grande que fragmenta os votos. Temos ideologicamente uma divisão muito forte entre os partidos. Esperamos que nas próximas eleições exista uma  organização das forças em tornos de poucos candidatos com grande força política.

 

PP – Professora, fique à vontade para suas considerações finais.

MARIA DO SOCORRO – Eu é que agradeço. Vamos voltar a conversar em breve. A campanha está apenas no início e até 2 de outubro teremos muitos desdobramentos e veremos até lá a correlação de forças e do desempenho das nossas forças políticas no processo eleitoral e podermos voltar a debater todos estes temas relacionados às forças políticas em nível nacional, estadual e federa. E quem sabe São Carlos volte a eleger um deputado federa ou estadual. Um abraço e até uma próxima oportunidade.

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