“Picolé de Chuchu não terá chances em 2020”, afirma cientista política
O político sem tempero que não se posiciona de forma clara
sobre temas polêmicos ou que fala muito e não diz absolutamente nada no estilo
que marcou o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, está fora de moda e não
terá chances de vitória nas eleições municipais de 2020. A afirmação é da cientista
política Vera Cepeda.
A especialista ressalta que a crise política e econômica que assolou o Brasil a
partir nos últimos anos alterou completamente o comportamento do eleitor. “Vivemos um período de crise. É um momento
ruim, que desestabiliza instituições, pessoas. Abre brechas mostrando que o
passado não serve mais para iluminar o futuro. A questão nem mesmo é o
personagem Alckmin, que é uma pessoa mais neutra, mais ao centro. Ele sempre se
elegeu baseado na máquina partidária. O PSDB tem uma força na máquina estatal
paulista fantástica, mas a crise colocou os tucanos na berlinda”, explica ela.
Vera afirma que em 2018, quem apostou em propostas mais ao centro como Alckmin
e o ex-ministro Henrique Meirelles se arrebentaram nas urnas enquanto
personagens com discursos mais sectários e claros, como Cabo Daciolo ganharam
grande notoriedade. “As eleições de 2018 revelaram que no Brasil existe uma
sociedade que acha que o Estado faz sentido e uma sociedade que acha que o
Estado não faz sentido e no meio do caminho não sobrou espaço para alternativas.
Esta dinâmica da crise não acabou. Então, em 2020, este cenário da crise tende
a reaparecer. Quem fizer política baseado na velha dinâmica vai perder espaço”.
Ela possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1992),
mestrado e doutorado em ciência política pela Universidade de São Paulo (1998;
2004) e pós-doutorado em ciência política pelo IESP/UERJ (2016). Atualmente é
professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São
Carlos.
Quanto ao fim das coligações partidárias para a disputa das cadeiras de
vereadores, Vera Cepeda acredita que esta mudança poderá causar grandes
transformações na política municipal. “Pode ter um efeito bastante
significativo. As coligações são feitas privilegiando capitais ideológicos, mas
acima disso, certos prestígios adquiridos e mecanismos estruturais de campanha,
como os recursos, sejam de palanque ou para fazer campanha boca a boca na rua”.
Sem coligações, segunda ela, a disputa tende a ser diferente. “Poderá implicar
numa desindustrialização das candidaturas dos vereadores e fazer com que as
candidaturas sejam mais naturais e mais pautadas nos seus grupos partidários e
na trajetória do vereador. Mas o capital privado do vereador também pode ser
decisivo neste processo”, comenta Vera.