‘Reunião sigilosa’ de Bolsonaro teve 40 pessoas, incluindo assessores e técnicos
Tratada agora como sigilosa
pelo governo de Jair Bolsonaro, a reunião ministerial do 22 de abril, a última
com a participação com o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, foi presenciada
por ao menos 40 pessoas. Os “segredos de Estado”, conforme alega o
governo, foram conversados na presença de todo o primeiro escalão, presidentes
de bancos públicos, assessores especiais, ajudantes de ordens, cinegrafista e
fotógrafo. A quantidade de pessoas pode ser conferida nas imagens divulgadas
pelo Palácio do Planalto.
Os detalhes deste encontro estão sendo
averiguados no inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar
a acusação de Moro de que o presidente Bolsonaro tentou intervir no comando da
Polícia Federal. O governo quer que apenas parte da reunião seja divulgada.
Ministro-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), Augusto Heleno, argumentou que divulgar que o vídeo na
íntegra da reunião, que agora é alvo de inquérito, é “quase um atentado à
segurança nacional”. “Pleitear que seja divulgado, inteiramente, o
vídeo de uma reunião ministerial, com assuntos confidenciais e até secretos,
para atender interesses políticos, é um ato impatriótico, quase um atento à segurança
nacional”, escreveu no Twitter na última quarta-feira (14).
Para evitar a divulgação do vídeo, a
Advocacia-Geral da União (AGU) alegou, na semana passada, “assuntos
potencialmente sensíveis e reservados de Estado”. O presidente tem adotado
o mesmo discurso, dizendo que não há problemas em divulgar o trecho alvo de
investigação, mas alega que “assuntos comerciais, de relações
internacionais e questões pessoais” se mantenham em sigilo.
Entretanto, até o inquérito envolvendo o
ex-ministro da Justiça, a preocupação com segurança das conversas sigilosas não
era tamanha. Durante os conselhos de ministros, garçons da Presidência também
entram na sala para servir água e café no início e, eventualmente, retornam à
sala para repor as bebidas. Nesses encontros, técnicos de som, responsável pela
operação dos microfones, também costumam ter acesso ao local.
Além dos ministros e assessores sentados à mesa,
uma foto ampla mostra cinco pessoas em pé. Em outra imagem, é possível
verificar que o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, e outros três
assessores estão sentados em uma outra fileira de cadeiras, encostada na
parede.
O cuidado mais evidente ficava por conta dos
celulares. Nestas ocasiões, para evitar vazamentos, todos os participantes são
obrigados a deixar o celular do lado de fora da sala. O único que costuma ser
exceção é o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI),
Augusto Heleno. Já o telefone do presidente costuma ficar nas mãos de um
ajudante de ordens.
Os encontros eram gravados na íntegra e
armazenados pela Secretaria de Comunicação com conhecimento do presidente, que
eventualmente publica trechos em suas redes sociais.
“Nossa reunião é filmada e fica no cofre lá
o chip”, comentou Bolsonaro no dia 28 de abril – na época, ele mesmo
sugeriu a divulgação do vídeo. “Mandei legendar e vou divulgar. Tirem as
conclusões de como eu converso com os ministros.”
Após a investigação, o governo passou a alegar
que apenas trechos eram gravados para a divulgação, mas, por fim, entregou o
conteúdo da íntegra da reunião do dia 22 de abril atendendo ao pedido do
ministro Celso de Mello, do STF.
O caso está forçando uma mudança nos
procedimentos dessas reuniões. O presidente afirmou que agora privilegiará as
conversas individuais com os ministros e passará adotar um café da manhã mensal
para “confraternização.” A tendência agora é que as reuniões com
ministros deixem de ser filmadas, como já ocorreu na última terça-feira no
Palácio da Alvorada.